Anteontem ao assistir ao “impeachment” de Dilma Roussef pelo Senado brasileiro, três memórias me ocorreram…
Os anos 70, em Aveiro, quando ia à lota a convite da “Tia Nova” que, juntamente com o marido a dirigiam. Ficava sempre espantado ao ver os comerciantes vindos de toda a zona centro para leiloar os lotes de peixe postos à venda em canastros de todos os tipos. Era uma zanguizarra das antigas, que só eles e o leiloeiro entendiam, rapidíssima e eficaz. Numas horas da alvorada vendiam-se milhares de quilos de pescado.
No final dos anos 70, pelo Natal, passava na RTP um programa onde os militares ausentes em Angola, Guiné, Moçambique enviavam mensagens saudosas a suas famílias na “metrópole”, muito nervosas e expressivas, em cujo calor da emoção, às centenas os havia a mandar “propriedades para a sua Florbela” ao invés das prosperidades que lhe haviam assobiado ao ouvido e mal retidas ficavam…
Nos anos 90 assisti pela televisão a uma “missa” da igreja IURD, Igreja Universal do Reino de Deus, que vivamente me impressionou pela potente actuação dos seus “pastores”, pela histeria do seu “rebanho” e pela eloquência coreográfica de todo o “mise-en-scène”.
No senado brasileiro, a votação dos quinhentos e tal representantes do “povo”, que tinham 10’’ para fundamentar seu voto, superou todas as expectativas de espectacularidade, ronha, candura, malvadez e histeria.
O Brasil deu ao mundo a visão dos seus governantes, a sua ganância, o seu ódio, a sua ânsia de “botar mão na panela”. Talvez tenha provado que, efectivamente, o extraordinariamente maravilhoso país que é o Brasil tem os piores e mais corruptos políticos mundiais. O que convém não esquecer é que metade de todo aquele sangue tropical buliçoso é… oriundo de Portugal.
Na lota nunca vi uma peixeirada daquelas, nas mensagens do “ultramar” nunca ouvi tanta asneira junta, na IURD nunca pressenti tanta cupidez.