O que ontem se viu na tentativa de eleição do presidente da Assembleia da República nada teve de dignificante, pelo contrário, mostrou-se ao país o que aí vem nesta nova XVI Legislatura.
A AD falou com o Chega no dia 25, que se comprometeu a apoiar a candidatura de Aguiar Branco.
Não falou com o PS.
Entretanto, dois enchicharrados pré-ministros de Montenegro, Paulo Rangel e Nuno Melo, apregoaram aos microfones que não havia nenhum o acordo com o Chega.
Ventura não gostou e o seu grupo de deputados votou em branco.
O PS apresenta a votos Francisco Assis. Aguiar Branco diz que já não é candidato para passar a ser, de novo, minutos depois. O Chega apresenta a candidatura da ex-deputada do PSD, Maria Manuela Tender.
Feita a contagem, nenhum dos candidatos conseguiu os 116 votos necessários para ser eleito, ficando à frente por escassa margem, Francisco Assis.
Volta-se a votar, ficando de fora a candidata do Chega, que só obteve os votos do seu partido e, mesmo assim, apenas 49 dos 50 previstos.
Seguiu-se a terceira votação que deu a Francisco Assis 90 votos e a Aguiar Branco 88, com 52 votos em branco, os do Chega e vá-se lá saber de mais quem.
O presidente em exercício, António Filipe, do PCP, por ser o deputado com mais anos de parlamento, dado o adiantado da hora e a inconclusividade das votações, adiou para hoje a 4ª votação e/ou a continuação da penosa saga.
O Chega, entretanto, diz-se “espezinhado e humilhado” pela AD. A IL chama “garoto” a Ventura e diz que ele está a fazer uma “birra” e a manter refém dos seus caprichos a AR.
De Luís Montenegro nada se ouviu. O mesmo de Pedro Nuno Santos. Ambos têm os seus peões de brega para mandar para o touro.
De facto, Ventura é o enjeitado deixado na roda, aquele que berra muito e ninguém quer a seu lado porque nele já ninguém confia. Aquele que se tornou a “viúva negra” do Parlamento, de quem todos temem o “fatal beijo”. Porém, em boa verdade, tem 50 assentos que lhe dão 50 votos e, ou a AD se entende com o PS, ou Montenegro terá mesmo que engolir centenas de sapos e entender-se com o Chega, num clima de instabilidade constante, nunca sabendo para que lado, em cada manhã, acorda Ventura virado e se vai ou não dar o dito de ontem pelo não dito de hoje.
Esta noite pode ter trazido clarividência e sensatez às partes. A AD pode apresentar outro candidato que não Aguiar Branco, exposto a a dura provação. O Chega pode apresentar outra candidatura que não a de Manuela Tender, que nunca terá consenso. O PS, esse, tendo como inútil “vencedor” da noite Francisco Assis, ninguém mais se verá compelido a apresentar.
Fala-se em propor António Filipe, deputado do PCP que já vem da VI Legislatura de 1991-95, o que seria uma surpresa e inusitada decisão, que poderia ser a forma de desbloquear este impasse, com os votos da esquerda, do PS e da AD…
Veremos os cozinhados de hoje. Para já, o circo criado por Ventura está montado e a deplorável figura que se passa para o exterior é mais de uma tristonha pantomina que de um momento de bom humor.
E vai a procissão no adro…