Vamos entender a palavra “bando” hic et nunc – maneira chique de dizer aqui e agora – como “um grupo de pessoas ou de animais, especialmente de aves”; ou então “grupo de pessoas que combatem juntas por uma mesma causa ou sob as ordens de um mesmo chefe” … (Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa) e “idiota” como aquele “que tem ou denota falta de inteligência ou de bom senso“ (idem).
Exclusivamente neste contexto semântico, um desses “grupos de pessoas” aproveitou com oportunismo (ou oportunidade?) o último dia de actividade da Assembleia da República para aprovar novos cortes salariais na função pública e nos aposentados, a pretexto da contribuição de sustentabilidade e etc. Uma medida que cremos inconstitucional e lesiva dos de sempre. Esta malta parece ser, além do mais, de uma falta de valentia (ou será cobardia?) fulminante. Ataca sempre os mesmos, os mais à mão de semear, os mais indefesos e os mais fragilizados. Não quer nada com os “poderosos”. No hay cojones (permita-se-me falar “castellano” como o Senhor Teodoro Obiang). Provocando a lei e as determinações do Tribunal Constitucional parece fazer o mesmo que qualquer prevaricador. Só que, com contumácia e reincidência.
Bom, como escrevíamos, um grupo de pessoas denotou falta de bom senso, na nossa particular óptica… E se ao estimado leitor isto parecer um eufemismo, ou até a culminância do eufemismo, eu quero dizer-lhe que está no seu direito de entender quaisquer preciosismos oriundos da ars bene dicendi, mas muito alheios de meu mero intuito, neste acto de escrita.
“Nós Feirar” é o slogan da Feira de S. Mateus 2014.
Pensamos que será oriundo de um “bando de idiotas” e comprado por outro” bando de idiotas” (mantém-se o contexto supra).
Aceitamos que este linguarejar, que não é português, possa ser usado na Guiné Equatorial com a pressa de integrar a CPLP; aceitamos que possa ser usado infantilmente por uma criança; pensamos que, in extremis, alguém o escreva num sms… Agora que alguém na Senhora Câmara de Viseu dê cobertura a estas rábulas de mau-gosto encapuzadas em modernice, já é mais discutível. Denota falta de bom senso. Denota ausência de sentido do ridículo. Inoportunidade. Inconveniência. Chocarrice. Denota uma parvoeira muito “in and up” mas, fundamentalmente, denota, dando o mau exemplo, desrespeito pela Língua Materna e é um estímulo à transgressão (e não por mero efeito literário).
Ainda aceitamos, por benefício de dúvida, que a frase fosse inicialmente: Nós gostamos de feirar e o recurso à supressão, neste caso a elipse do presente do indicativo do verbo gostar na 1ª pessoa do plural, tivesse a intenção de ser subentendida, fazendo ressaltar uma sensação de sobriedade e densidade. Qual quê? Sobriedade? Densidade?
“Nós Feirar”, esta 1ª pessoa do plural a querer significar o eu incluído no colectivo, seguida do modo do infinito, o infinitivo “feirar”, apresentando o acto em abstracto, sem qualquer particularização, ademais pegando no substantivo feira para o transformar em feirar, com o sentido de comprar ou vender numa feira, é de uma falta de imaginação, raiando um grosseiro novo-riquismo semântico e uma falta de rigor morfológico caracterizador não dos seus criadores mas dos seus mentores. Porque aqueles, criativos, sabem que atrás de cada esquina encontram um “parolo” que compra; porque estes, na ganância de inovar acham que qualquer almôndega de gato é feita de fina lebre…
Nós achar!