Agora e depois de Setembro de 2016, quando José Mota Faria largou, enfim, a liderança da Comissão Política Distrital do PSD de Viseu, há um balanço a fazer da obra e do legado de alguém que mandou no partido “laranja”, a nível do distrito, desde Abril de 2009.
Médico de profissão, político por inclinação, diz-se que andou pelos bastidores do verdadeiro poder, pouco afeito a dar a cara pelas decisões tomadas e com propensão para aquilo que um seu antecessor apodou de “política do cochicho”.
Se numa primeira parte do seu longo mandato de seis anos, a conjuntura política nacional lhe favoreceu a eleição de mais um deputado, por desmérito da acção governativa socialista mais do que por seu mérito pessoal, a segunda parte foi-lhe adversa, tendo perdido para o partido “rosa” o número de autarquias suficiente para lhe conceder, entre outras, a tomada do bastião CIM Viseu Dão Lafões onde, das 14 autarquias, uma é independente e socialistas são “só” as de Mangualde, Nelas, Carregal do Sal, Santa Comba Dão, S. Pedro do Sul, Vila Nova de Paiva, Penalva do Castelo e Castro Daire.
Estas eleições autárquicas traduziram-se num resultado catastrófico e não apenas por alguns referenciais autarcas terem chegado ao fim dos seus mandatos – como José Mário Cardoso, em Sernancelhe, sucedido com êxito por um outro social-democrata, Carlos Silva Santiago – mas por ter feito escolhas controversas, nas quais os eleitores não se reviram, por exemplo em Nelas, Carregal do Sal, Penalva do Castelo et all…
Também controversas foram muitas das nomeações políticas, naturalmente com ele consensualizadas. E não é preciso ir mais longe do que o domínio que Mota Faria tem obrigação de melhor conhecer, o da Saúde, para elencar uma mais que polémica administração do Centro Hospitalar Tondela Viseu, ou os sucessivos directores-executivos do Aces Dão Lafões, Marques Neves e Luís Soveral Botelho, o primeiro um empafiado personagem, o segundo um sombrio figurante, gente que o PSD nomeou para eventual desmerecimento da Saúde: utentes e Unidades Funcionais.
Mota Faria tem de seu a não-assunção dos insucessos – nunca sabe de nada – e até dos parcos êxitos é arredio, no seu bizarro “low profile”.
Numa entrevista por mim determinada, dada em Agosto de 2011 a um periódico que então dirigia, fala das suas prioridades, sendo curioso relembrar algumas delas:
“a agricultura e a floresta assumida como sector estratégico nacional”;
“o sector social como prioridade das prioridades”;
“um novo papel da família valorizado”;
“ainda hoje temos uma taxa de desemprego superior à média nacional, é um flagelo e é um combate que tem que ser ganho”;
“apoiar o tecido empresarial; investimento público e privado”;
“o Estado Social sustentável”;
“justiça na distribuição de sacrifícios”;
“o Estado a dar o exemplo de austeridade”;
“a auto-estrada Viseu-Coimbra (…) se for auto-sustentada, portajada e se tiver sustentação financeira (…) uma prioridade para o distrito; uma via estruturante”;
“a universidade pública como reivindicação legítima dos viseenses. É um investimento estruturante (…) uma universidade de excelência, com grande qualidade técnico-científica”;
Sobre os cargos de nomeação política: “despartidarização e desgovernamentalizar (…) em Portugal devia ser definido o que são lugares políticos, o que são lugares técnico-políticos e os que são lugares meramente técnicos. Defendo esta base zero”;
Sobre a gestão público-privada com o Grupo Visabeira: “Nunca ouvi falar. Sou defensor do SNS”;
“devemos ter um centro oncológico que já podia ter sido feito (…) a integração do Centro de Saúde Mental”;
Sobre os serviços e os serviços perdidos: “defendemos uma distribuição equitativa dos serviços regionais pela região (…) Não podem continuar a existir só dois pólos na Região Centro: Castelo Branco e Coimbra. Faço questão disso. É uma reivindicação da região”;
Sobre o secretário de Estado da Economia, Almeida Henriques e o que ele ia fazer por Viseu: “o interior vai ser contemplado, tem a ver com uma prioridade de investimento no interior”
Sobre as eleições autárquicas de 2013: “O objectivo é o crescimento”;
Sobre a candidatura à Câmara Municipal de Viseu: “O dr. Fernando Ruas já faz parte da história de Viseu e da região”;
Sobre ele próprio ser o candidato à presidência da CMV: “Não me devo pronunciar sobre isso (…) Ninguém em política pode dizer: Desta água não beberei”;
Sobre a austeridade: “ Eu acredito no Governo |Passos Coelho | e no presidente do partido em relação a esta luta como exemplo de austeridade. A época dos truques e das jogadas acabou”
(…)
Como podemos constatar, apreciar e ponderar, quase nada bateu certo de entre todos estes desígnios. A bota e a perdigota não adregaram a quadrar-se…
Também talvez por isso, nunca o partido viu nele o necessário perfil e carisma para o indicar como candidato à CMV. Em alternativa, depois de Almeida Henriques o ter suplantado no desiderato, recebeu o prémio de compensação – uma espécie de cargo de “duquesa de Windsor”, com convite certo para as “inaugurações” onde sempre pode ir erguer a taça de espumante “made in Rossio”, em prol dos vinhos locais – a eleição para o digno lugar de presidente da Assembleia Municipal.
Hoje, com uma nova Comissão Política Distrital do PSD, espera-se uma visão mais lata, mais moderna, mais realista, menos opaca, menos bafienta e com o sucesso que faltou à anterior.
O que não será difícil, pois fazer pior não é fácil…