Liberdade versus jugo
“Liberdade… a faculdade de nos subtrairmos ao poder e sobretudo a faculdade de não subjugarmos ninguém.” “A Lição” (Roland Barthes, R. Ed.70, 1979) Livres eram outrora todos quantos não eram escravos. Liberal era generoso. A liberdade era o livre arbítrio, e o arbítrio era a vontade. A faculdade era uma capacidade física ou moral. Subtrair […]
“Liberdade… a faculdade de nos subtrairmos ao poder e sobretudo a faculdade de não subjugarmos ninguém.”
“A Lição” (Roland Barthes, R. Ed.70, 1979)
Livres eram outrora todos quantos não eram escravos. Liberal era generoso. A liberdade era o livre arbítrio, e o arbítrio era a vontade.
A faculdade era uma capacidade física ou moral. Subtrair era tirar por baixo. O poder era a antiga posse. Subjugar era colocar sob o jugo, que também foi união.
Bom, a filologia arrastada na etimologia far-nos-ia dançar uma zarzuela barroca… Mas nelas, nas palavras, tudo se encontra. Nas palavras, no seu conhecimento e no seu bom uso
Hoje ninguém se quer subtrair ao poder, ou melhor, ao exercício do poder e todos sofremos os seus malefícios. Ninguém é livre (ou muito poucos o serão). Somos escravos de qualquer coisa, como Charlot em “Tempos Modernos”. E cada vez somos mais…
O liberal deixou de ser generoso, a não ser num sensu stricto ao sê-lo para si próprio e/ou para os seus e/ou da sua família política ou classe económica. A generosidade interpares é uma espécie de Club Mediterranné para eleitos.
Faculdades, ao que por aí vemos e tirando a dos maratonistas, nomeadamente da política, que o são de fundo e pulmão largo, mais se encontram hibernadas ou em estado hipertrófico.
Subtrair é verbo de muito movimento, hoje em dia. Porém, apenas nalgumas pessoas do singular e do plural. Frequentemente, também, oriundas do mesmo escol… Hoje, a subtracção ampliou-se e passou à divisão, mormente entre opressores e oprimidos, ricos e pobres, opulentos e indigentes, novos e velhos, homens e mulheres, brancos e pretos, trabalhadores e políticos…
Por isso, mon vieux Roland, a dinâmica da língua acelerou tanto que só tu, prodigioso génio – passe a redundância – terias a capacidade de a re-entender de uma assentada… Isto nem para as palavras vai de jeito. E sabes porquê, vieux Roland? Porque até delas os políticos e os seus saltimbancos se apoderaram (confidenciou-me o compadre Zacarias…).