“Smart” é nome de veículo urbano de pequenas dimensões. Se anteposto a “cidade”, e como adjectivo, confere-lhe subjectivamente o atributo de ser “esperta”. Um animismo ou personificação. As cidades não têm a competência de ser espertas nem obtusas. Essa qualidade ou defeito é-lhe consignado fundamentalmente pelos seus habitantes e, secundariamente, pelas acções dos autarcas a quem os munícipes concederam o voto.
Mas o que é isso de uma “esperta cidade”? À partida será aquela que, à luz das novas tecnologias, se concebe como um território inclusivo, ideal para quem nele habita ou o visita, com uma potencializada qualidade de vida, com melhores e mais recursos hídricos e eléctricos substancialmente mais baratos, sem poluição ambiental, sonora, atmosférica, visual, com zonas de lazer atraentes, sem desemprego, sem violência, com prosperidade para todos, em geral – e não só para alguns, em particular, ecologicamente perfeita, com boas estruturas escolares e bom Ensino, bons hospitais e centros de saúde, impostos minorados e cingidos ao essencial, vias de comunicação decentes – também ditas acessibilidades, limpeza generalizada de ruas, praças e subúrbios, imune a ameaças externas como incêndios e outras, inclusiva para cidadãos portadores de deficiência, com uma rede de transportes urbanos eficaz, etc., etc., etc.
É esta a minha noção de cidade dotada de “esperteza”.
Todavia, se uma “smart city” é aquela que tem mais “call-centers” onde se escravizam os neo-operários da modernidade, mais incubadoras de voláteis fundos comunitários, bonecos tipo-tomi de serventia duvidosa, imis caríssimos, lixo por toda a parte, cuidados de saúde medíocres, educação de qualidade média, desemprego em alta, comércios a fechar quotidianamente, elites a abotoarem-se com a smart-moda e muito patuá politiquês… então, por mais modernas tecnologias que lhe injectemos – há quem ganhe milhões nesses domínios – e por mais esperta que lhe chamemos, a coisa não funciona, ou funciona só para alguns promotores da esperteza, pois isto mais se assemelha ao asno das Freixedas, a quem eu posso chamar mil vezes puro sangue inglês e pôr-lhe até no dorso uma sela de couro Vuitton e um jokey de lata ciência equestre, sendo certo que mesmo assim aperaltado nunca adregará a ganhar corrida alguma, ficando engalanadamente a milhas do pelotão.
Mas lá que dá nas vistas… isso ninguém lhe nega, e até os ingleses atordoados com o brexit o irão gabar nos seus jornais.