Comprei o jornal i duas vezes. Quando o Emílio Summavielle escreveu uma bela crónica sobre a revista literária “aquilino” e hoje, pelas declarações reproduzidas do nosso estimado deputado da Nação e vereador da oposição na autarquia viseense, Hélder Amaral.
Todos lhe conhecemos a aguerrida combatividade. Maria José Nogueira Leite também, em 2007, proferindo a célebre frase, vá-se lá saber porquê: “O partido não é dos cães de fila de ninguém”. O PSD outro tanto, na figura do líder local Fernando Ruas. O PS nem falar… Sobre futebol, sabe-se da sua emotiva contundência em defesa do Sporting. Agora o que todos ignorávamos era a sua admiração e simpatia por José Eduardo dos Santos, o quase-eterno presidente da República Popular de Angola.
(outros tempos, outras prioridades)
O MPLA, Movimento Popular pela Libertação de Angola, é um partido de matriz comunista com primícias no início de 1960 e nascido como movimento ferozmente anti-colonialista.
O CDS não me consta que o seja, mas… a sua líder Assunção Cristas é angolana. Também o é Hélder Amaral, de Calandula . “A nossa presidente é angolana, nasceu em Luanda, eu também”, referiu o deputado centrista. E sê-lo-ão mais dois milhões de portugueses… mas nem todos foram convidados para o VII Congresso do MPLA, que consagrou o seu chefe por mais um mandato.
Hélder empolgou-se e disparou algumas frases deste género:
“No CDS, nós temos todos relações com o MPLA”;
“Foi-nos feito um convite e nós viemos a correr”;
“Angola está num momento de viragem e o desenvolvimento é grande”;
“Que seja o primeiro de muitos congressos e esperamos também no nosso congresso representantes do MPLA”, e etc…
Hélder talvez se tenha apenas excitado no meio do unanimismo dos 2600 delegados; Hélder ter-se-á emocionado quando o seu colega José Eduardo disse que ia ficar até 2018 – depois logo se verá…! Hélder estará num ponto estranho de viragem, dividido entre estes dois grandes partidos de dois povos irmãos (?): o MPLA e o CDS, descobre-se agora nesta incontida vivacidade e exuberância verbal, “ultrapassam qualquer dificuldade”, tal como os dois países secularmente ligados e separados por meros arrufos que hoje acreditamos terem sido banais mal-entendidos, na década de 60 e até 1974.
Porém, no seio do partido da democracia cristã há quem tenha ficado irritadamente perplexo com estas arremetidas do loquaz-Hélder. Ribeiro e Castro foi um deles apodando a atitude de Hélder Amaral de “realinhamento que vai além daquilo que é justificável e compreensível”, mais tendo considerado as suas palavras de “coisa miserável”, parafraseando o “Público”.
Também Pedro Pestana Bastos, do CDS, reagiu afirmando na sua página do Facebook: “O deputado Hélder Amaral está seguramente sob efeito de jet lag (só pode)“.
Sob o efeito ou não do jet lag, o que é estranho para um globetrotter de provas dadas, cremos que Hélder Amaral quer apenas potenciar a voz de África no contexto internacional.
Ele e Paulo Portas.
Porquê, não sabemos, mas talvez o seu africanismo e o de Portas seja, no fundo, meta partidário e esteja para além de quaisquer ideologias redutoras, sejam elas marxistas-leninistas ou democrata-cristãs.
O PCP não faria melhor…