Outrora, os missionários tinham como principal função espalhar a fé cristã pelo mundo, convertendo a torto e a esmo, os autóctones, ditos os “selvagens”, dos territórios ocupados.
Foi assazmente relevante para o cristianismo a sua acção evangelizadora, nomeadamente a dos poderosos Jesuítas.
Hoje, os outros missionários arreiaram fundações lá para as bandas da política, que como todos sabemos, é obra dos cidadãos da polis, muito carecida de gente iluminada, ardente em fé e de místico fervor.
Então, empenhados, fazem fila para chegar ao Parnaso, que pode muito bem começar pela Casa da Democracia ou Assembleia da República, almejando garantir um empregozinho bem pago e não muito esforçado por quatro anos, no mínimo, no máximo podendo lá ficar até que o Alzheimer os desmemorie.
E basta ver aquando da constituição das listas pelas distritais… só lhes falta andarem ao tabefe, ou como os índios das florestas perdidas, comerem-se uns aos outros.
A apetência é muita, a concorrência é maior e, para muitos, é quase o único meio de subsistência que logram arranjar nestes tempos difíceis, a tábua da salvação.
Lá chegados, depois de tirarem o retrato e receberem um saquinho com o logotipo da AR e, lá dentro o regimento da casa – que vão ter de estudar, mesmo que lhes custe –, estão prontos e confirmados como tribunos do povo que os elegeu para a defesa das causas dos seus territórios e da Nação.
Quando lá ficam mais do que um mandato, conhecendo os corredores onde perdem os passos, e percebendo que não precisam de ser geniais como o Professor Pardal, empafiam-se de fátuo deslumbramento e questionam-se:
Alguns até, no deslumbramento da sua meteórica carreira, da sua missão patriótica, zelotas da res publica, ansiosos por dar o peito (ou os peitos) às balas, impacientes pelo aparente esquecimento de quem decide, despachados pensam: Se Maomé não vai à montanha vai a montanha a Maomé. E prescientes desta certeza, depois de estudarem bem os delgadinhos currículos, como num puzzle, tentam adequá-los a uma pasta e, logo de seguida, ansiosos, pegam no telemóvel, ligam ao ministro ou à ministra e disparam, com voz untuosa:
— Caro Amigo permita-me parabenizá-lo pelas novas funções de que foi acometido. O meu amigo é, evidentemente, “the right man in the right place”, sempre o disse, mas… aceite o atrevimento, que só me é legitimado pelos superiores interesses da Nação que sirvo… Não acha que eu seria uma preciosa mais-valia no seu staff, como seu(sua) secretário(a) de Estado?
Claro está que o ministro ou a ministra em causa, estupefacto pela inesperada abordagem do(a) deputado(a), se cingiu a uns engasgados balbúcios, uns titúbeos de estupor, e tossicando, após limpar o catarro despachou:
— Que pena, se me tem falado ontem…
(Foto DR)