(…) “o povo, como qualquer país à beira mar plantado, vergava sob impostos pesadíssimos, corrompendo na miséria e na escuridão.”
Aquilino Ribeiro, O Livro do Menino Deus, Bertrand, 1945
Numa sociedade, os idosos e os recém-nascidos são as duas franjas etárias mais frágeis. Se os anciãos são descartáveis como as Bic’s – honra às exceções – num país com uma tão acentuada quebra demográfica deveríamos esperar que os segundos fossem tão abençoados como a chuva cálida depois da longa seca.
Mas não. Hoje, como se tornado hábito, já não preocupante mas alarmante, há mães a dar à luz e a “largar” os filho nas maternidades – o lugar da “mater”. Não há competência para julgar um ato deste teor. E falar em desumanidade é simplista. Acreditamos que só o mais profundo e exacerbado dos desesperos pode levar uma mãe a abandonar seu filho. Ou um filho a abandonar seu pai… Atrocidades, ambas.
Questão cultural? Só muito parcialmente. Há tribos no mais recôndito sertão que festejam e acarinham tanto os nascituros como os anciãos. Questão económica? Será ela o cerne da questão. Mas é certo também que há famílias tão pobres como Job ou os Fandingas e onde avô e neto nunca foram repudiados.
Sinais e reflexos dos tempos? Absolutamente. Uma sociedade decadente e amoral, sem valores, é geradora de todas as vilezas. A Escola desprestigiada e agora, ao que se diz, em vias de se tornar luxo de elites; filhos deficientemente formados que irão ser pais com défices de educação acentuados; um neoliberalismo tresvairado e insano que despreza o ser humano, só o apreciando como besta de carga; políticos-governantes espelhando as piores e mais estigmatizantes práticas… tudo conjugado, que sociedade geradora de afetos e valores esperávamos encontrar? Batedores do Inferno não alcançam Paraíso…