Dizem-nos as alarmantes notícias que vem aí mais um aumento substancial do custo de vida, com principal incidência nos produtos essenciais.
O português já perdeu a capacidade de se admirar com esta recorrente subida dos preços. Parece até que o czar Putin e a sua invasão da Ucrânia se tornou no maior adjuvante dos especuladores, nédios, luzidios e bem cevados que, como abutres ou ratos de esgoto, pululam, encantados e jubilosos por esse planeta fora.
Nós, por cá, cada vez mais empobrecidos, com salários que nos deixam no limiar da indigência, temos várias hipóteses para a sobrevivência:
Passar de duas para uma refeição diária;
Cortar em todos os ditos gastos supérfluos ou acessórios;
Vender o velho automóvel (poupamos no seguro, IUC, inspecção, oficina e “gasoil”);
Deixar de ir à farmácia comprar os medicamentos essenciais;
Pôr de lado a carne, o peixe, a fruta e os legumes… sempre podemos transigir com um franguito raquítico de quando em vez e, aos domingos, com um punhado de carapaus de segunda;
Cultivar a horta da aldeia, há muito abandonada. Sempre se arranjam umas batatitas, tomates, couves e alfaces…;
Permanecer em casa o máximo de tempo possível, antes e após o trabalho;
Estar às escuras dentro de casa;
Poupar na água, passando a andar mais tempo com a roupa suja e espaçar os banhos para duas vezes por mês;
Com o Inverno a chegar, cortar liminarmente o aquecimento e aumentar o número de cobertores na cama;
Vender as roupinhas já em desuso… etc., etc., etc.
Deixo o resto de hipóteses à infinita capacidade criativa e à resiliência de cada português.
É claro que haverá sectores da economia que começarão a ir pela “pia abaixo”, enquanto outros cada vez mais se “anababam”. É a vida, como diz tristonho e conformado o Compadre Zacarias.
Alguns, com mais alento, viram as costas a este país de novos pobres, e partem para França, para a Suíça, para a Alemanha … Principalmente se foram recém-licenciados de elevado potencial ou trolhas espadaúdos. A outra Europa agradece esta mão produtiva, a fazer lembrar os anos 60 e o enorme fluxo emigratório de cidadãos sem “cheta”, a saírem de “assalto”, para a apanha da beterraba, ali para as faldas dos Pirinéus.
O Estado, aumentando impostos a esmo e limpando nos combustíveis entre 44 e 50% por litro de gasóleo e de gasolina, respectivamente, perde a moralidade para agir com mão pesada sobre os abutres especuladores.
Com aumentos do custo de vida, em alguns sectores, muito superiores a 30%, os aumentos propostos oscilam entre os 2 e os 6%.
Estamos conversados. Pensemos apenas que há sempre alguém pior do que nós, o que é fraquíssimo consolo. Lembremos que a miséria aumenta drasticamente a criminalidade… e as doenças… e etc., e que tudo junto se transforma numa imparável espiral de estreiteza e penúria que, em breve nos transformará num país de mendicantes, se ainda houver quem tenha verba para a caridade…