"De quem é esta cova, senhor?"
“Hamlet – (…) De quem é esta cova, senhor? 1º Coveiro – É minha. Hamlet – Creio, realmente, que seja tua, porque tu é que estás enterrado nela.” (WS, “Hamlet”) Proveito, onzena e usura ou avidez, aspiração? Ultimamente, mais das vezes, a avidez do proveito. O exercício de procurar o significado inicial de certos vocábulos não […]
“Hamlet – (…) De quem é esta cova, senhor?
1º Coveiro – É minha.
Hamlet – Creio, realmente, que seja tua, porque tu é que estás enterrado nela.”
(WS, “Hamlet”)
Proveito, onzena e usura ou avidez, aspiração? Ultimamente, mais das vezes, a avidez do proveito.
O exercício de procurar o significado inicial de certos vocábulos não é fastidioso, antes proveitoso.
Se ambição, outrora, significava correr ou cercar em volta, que era o que faziam os pretendentes aos lugares de destaque da república, correndo toda a cidade, cortejando uns e outros e captando as boas graças de quantos podiam ter voto, cobiça vem do latim “cupiditas”, de “cupio” ou desejo.
Enquanto a ambição se refere ao desejo/paixão desenfreada de obter honrarias, cargos, dignidades, a cobiça concentra-se no desejo de possuir dinheiro ou bens materiais, numa sofreguidão desembestada de riquezas, geralmente adquiridas à “má fila”.
Há ambiciosos que gastam com largueza para alcançar seus intentos.
Alguns dos nossos políticos – no mau sentido semântico da política, hoje completamente abastardado – são enquadráveis nas duas categorias.
Alguns, na sua mais pérfida e despudorada avidez passam por cima de tudo: lealdade, princípios, rectidão, honestidade, lisura, carácter, usando, ainda para substantivar o acto, do contraponto do altruísmo, caindo no baixo cinismo, impudência e hipocrisia.
Cedo se enrodilham nas teias que tecem, tolhendo-se e aos seus actos.
Outros pegam na pá e começam a cavar a terra mole, com agilidade, nem percebendo que estão dentro da cova que abrem e que a terra lhes começa a tombar em cima.
Existirá alguma analogia entre ambição, ganância e missão?