António Guterres é português e secretário-geral da ONU. Motivo para nos encher de orgulho, no nosso patriotismo sempre em déficit de valores “grandiosos”.
Porém, o momento mais determinante da História mundial das últimas sete décadas, a invasão da Ucrânia pelas tropas russas de Putin, parece tê-lo deixado em estado apático ou de duvidosa proactividade.
Alvo de críticas pelo seu já pesado e insuportável desprendimento – outros diriam menosprezo – Guterres saiu enfim do seu doirado casulo e decidiu-se a agir.
E contudo, também a forma como planeou, como delineou a sua acção não deixa de ser susceptível de reparos.
Recep Tayyip Erdoğan é o autor do célebre dito que, de certa forma, resume o seu pensamento e oportunismo: “Democracy is like a train, when you reach your destination you get off” para concluir agora com esta notável confissão: “Democracy, freedom and rule of law have absolutely no value in Turquey”.
De seguida, António Guterres ruma à Rússia para se encontrar com Vladimir Putin, se este o receber. Se não, contenta-se em almoçar com Sergey Lavrov. Por fim, decerto já cansado da viagem e do inerente jet lag, passa pelo país invadido por Putin, a tomar um cafezinho com Zelensky. Tour accompli!
Como diria o poeta: “Le coeur a des raisons que la raison ne connaît pas.”
Guterres cedeu às pressões que lhe condenavam a inércia, mas não soube ou não ousou debelar o atrito que o tolhia.
(Foto DR)