Hoje, o terror, depois de definitivamente enraizado, já não precisa de derramar sangue. Instalou-se profundamente no subconsciente humano (passe o ênfase).
Actualmente, o terror actua também e suficientemente pela sua verbalização. Sem armas nem engenhos explosivos.
Agora, aos difusores de terror, vulgo terroristas (substantivo multifacetado) basta sugerir a hipótese do acto, o atentado, para surtir o efeito desejado. A alteração dos hábitos, a quebra abrupta das rotinas, a modificação dos comportamentos, a perda da normalidade.
Uma suspeita – induzida ou deduzida – de um atentado, paralisa subitamente um colectivo e na abstracção potencia o efeito-surpresa.
Quando há uma ameaça de uma bomba, ali, as forças policiais correm para lá, o colectivo é conduzido para além. E é aí que o acto pode surgir com as consequências mais nefastas, até e porque actua sobre uma massa em pânico, presciente da previsível carnificina.
Neste final de ano, em várias cidades europeias, pôs-se fim a festejos congregadores de multidões onde a festa se fazia com o atordoar pirotécnico análogo ao das explosões.
Alegaram aceitavelmente que a intenção se prendia com o respeito pelos traumas dos refugiados e para não agudizar a sua memória recente do terror e da destruição.
Porém, hoje, em qualquer grande cidade europeia, como “afinar” as massas em pré-pânico para a distinção (tão análoga para um leigo transtornado) entre um foguete e uma bomba, uma descarga de fogo-de-artifício e uma rajada de metralhadora?
O terror hoje apenas carece da ameaça. Porque se fez respeitado, no sentido de já ter provado aquilo de que é capaz…
Este jogo do gato e do rato pode ser perfidamente potenciado até patamares inimagináveis, chegando ao extremo de se desvalorizar pela facticidade das ameaças, como na rábula do pastor e do lobo, para e de súbito, quando as defesas naturalmente afrouxarem, se impor com a costumaz e apocalíptica desrazão.