A idade do sexo
… porque prometi que hoje não escrevia sobre a Junta de Viseu… O tempo que vivemos é um continuum de invenções surgidas à meteórica velocidade da luz. A toda a hora, em qualquer parte do globo, algo está a ser inventado, reformulado, melhorado, adaptado, inovado. Há porém uma matéria estranhamente conservadora, sempre actual e por […]
… porque prometi que hoje não escrevia sobre a Junta de Viseu…
O tempo que vivemos é um continuum de invenções surgidas à meteórica velocidade da luz. A toda a hora, em qualquer parte do globo, algo está a ser inventado, reformulado, melhorado, adaptado, inovado.
Há porém uma matéria estranhamente conservadora, sempre actual e por todos praticada. O sexo. Se há info-excluídos raros serão os sexo-excluídos. E não se gasta… Mas também não se moderniza, actualiza, sendo matéria alheia a up-grades.
O sexo, ou mais especificamente, o acto sexual humano terá mais de 2 milhões de anos. E dizem os estudiosos da “coisa” que já na Idade da Pedra se determinava quem podia “dormir” com quem e o controlo do sexo pela sociedade (e não me refiro aos Flinstones !). E aquele imagem do homem das cavernas a arrastar a mulher pelos cabelos não passa de um mero cliché falocrático, pois está cientificamente provado que já na Idade do Gelo a mulher lutava pela sobrevivência do mesmo modo que o homem. Por isso, quando à mocada, pareceriam dois Pauliteiros de Miranda, pumba-pimba-pimba-pumba.
“O trio vermelho“, três jovens enterrados juntos, dois rapazes e uma rapariga, descoberto em 1956 numa aldeia da República Checa, conta 26 mil anos e prova uma execução por crimes sexuais, pois têm os sexos trespassados e mutilados e foram polvilhados de cor ocre. Oscilariam entre 17 e 23 anos e terão sido executados por crimes sexuais desviantes, diz quem sabe…
Terá havido um período de regras sexuais sem restrições? As evidências científicas sugerem que não. Há três milhões de anos, o homem tornado erecto (de torso…) ganhou uma configuração semelhante à de hoje, embora só desde há 26 mil anos os cérebros tenham o mesmo tamanho da actualidade… (e não foi preciso grande esforço). Há 100 mil anos, o homem e a mulher eram já anatomicamente modernos (configuração actual) e faziam amor como fazem hoje (quem diria?).
Ou seja, a oxitocina, antiquíssima, está tudo menos decrépita. Pelo contrário, parecem inundar desde sempre os nossos sistemas. Para os mais incultos, entre os quais me incluo, deixo descrição da preciosa Wikipédia: “A oxitocina é uma hormona produzida pelo hipotálamo e armazenada na hipófise posterior e tem a função de promover as contracções musculares uterinas durante o parto e a ejecção do leite durante a amamentação.” Hum…
Uma poção de amor… chamada com frequência de molécula do amor, a oxitocina está associada à facilitação dos casais em estabelecer uma relação de intimidade e de ligação, juntamente com a dopamina e a norepinefrina. (Eu nunca lhes chamaria estes nomes…). Mas não influenciam apenas a ligação, influenciam também o desejo e excitação sexual, ajudando os homens a manter a erecção durante o acto sexual – grandes quantidades de oxitocinas são libertadas enquanto o ser humano se encontra excitado sexualmente, principalmente durante um orgasmo, explicando a sua prevalência após o acto da natural vontade de carinho e meiguice. Ufa… Agora já percebo a conversa das duas adolescentes no Ice: “Estou cá com uma oxitocina! E eu… com uma norepinefrina..!” É só química… e eu a julgar que eram marcas de cerveja holandesa!
Mas dizíamos nós que o ser humano desde muito cedo se apaixonou. Formaram-se casais, mas não foram fiéis. O adultério tem barbas brancas como o Pai Natal. Ora aí está a constância da inconstância. E se isto vos parecer um oxímaro é porque andais a estudar figuras de retórica a mais.
E por falar em figuras, ocorre-nos o Kama Sutra…, esse vetusto texto indiano muito mais actual que o Das Kapital, de Marx e O Livro Vermelho, de Mao.
Escrito por … vou tentar… Vatsyayana Kamasutrum, no início do século IV, destinava-se à nobreza (elitismos à parte, precisariam destas instruções que o Povo descobria por si só) e visava elevar o espírito do homem na sua trajectória religiosa (nunca faria esta aposta…!) e conduzi-lo ao prazer através de posições eróticas (penso que foi inventado para ultrapassar o tédio daqueles ociosos cortesãos hindus)…
São inúmeras – as posições – denotando grande imaginação e prática do assunto. O homem de hoje, também nesta matéria, não só não inventou nada como ignora a maior parte das “adequadas” posturas, sempre atarefado, a pensar no trabalhinho, no aumentozinho, no esticar do pré até dia 30, só consegue descarga de dopamina quando espreita a vizinha sueca do lado, em baby doll a dar leite ao gatinho…
Mas as mulheres não são tão desleixadas e um estudo feito pela revista “Vila Mulher” (creio que é brasileira, né?) aponta as 10 posições por “elas” preferidas, a saber:
Tigre Branco (amantes de BD e Kung Fu)
Tigre e o Dragão (estilo Jardim Zoológico)
Ascendente (bom para alpinistas)
Cadeado (com gangues da Ribeira)
Le bateau îvre (para boémios Rive Gauche e eruditos Rimbaudianos)
Abertura ampla (militantes do PSD)
La bombe à retardement (activistas russos)
Posição de lótus ( estudantes de botânica)
União suspensa (preferida do Paulo Portas)
C’est si bon (degustada por enólogos do Dão).
Um provérbio da Antiguidade dizia:
” O banho, o vinho e Vénus usam o corpo, mas são a verdadeira vida.”
Os gregos e os romanos sabiam da “poda” e a Antiguidade terá sido o éden da não-repressão, não tendo ainda o cristianismo introduzido o remorso do pecado no fruto proibido.
Sexo… sol e lua, Yang e Yin, espírito e alma, fogo e água, a consciência e o inconsciente, tudo indica, através do sexo, a dualidade do ser, a sua bipolaridade, a sua tensão interna. A união sexual simboliza a busca de unidade (Hermes + Afrodite / Eros e Tanatos) o apaziguamento da tensão (explicação para andarmos tão irritadiços), realização plena do ser (Era da Frustração).
Mas para fechar “esta coisa” que a parlenda já vai longa (saltámos por aí fora imensas sincronias desta inesgotável diacronia; ainda escrevo um livro!) e nisto de sexo, nunca mais acaba (ao contrário do acto), ainda há quem reitere que melhor do que falar sobre ele é praticá-lo…, neste domínio o homem reprimiu-se, criou tabus, regrediu.
A tecnologia ainda não trouxe nada de novo (o Viagra, a contracepção…) e quase todos aguardamos com impaciência o “sexo virtual”, aquele dos orgasmos cósmicos, sentado ao computador, com uma mantinha sobre os joelhos, a ouvir a Oratória de Bach e a intervalar com uma leiturazinha do trespassado Álvaro de Campos, um soneto da Natália Correia (pode ser o do deputado Morgado, de Lamego), de uma Canção do A. Botto, do Sexus, de H. Miller ou de As Ligações Perigosas, de C. de Laclos…