Rir dos ciclistas
É verdade que os ciclistas sofrem o descaso dos automobilistas, a distracção dos peões e até a chacota dos comediantes, quando se sabe que qualquer um se acha no direito de ocupar toda a estrada e receber a vénia daqueles por quem passa.
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Nuno Rosmaninho
Num blogue de ciclistas, há-de faltar sempre o olhar do Outro. Perdoem-me a banalidade da frase. Ela serve para introduzir uma nota humorística de Guilherme Duarte, em Por Falar Noutra Coisa. Começa bem: «Há pessoas que andam de bicicleta que são… umas bestas.» Felizmente não sucede a todos. Ele, por exemplo, comprou uma bicicleta que, talvez por ser barata, «não veio com o kit de superioridade moral». Para isso, devia talvez ter escolhido um velocípede mais evoluído, em fibra de carbono e com travões de disco. Os ciclistas que as montam ganham mais facilmente a capacidade de se tornarem otários irresponsáveis, que se fazem a um traumatismo craniano só para não usarem um «capacete de penico». Presumo que ele se reporta à cidade de Lisboa, onde fez pesquisa de campo.
É verdade que os ciclistas sofrem o descaso dos automobilistas, a distracção dos peões e até a chacota dos comediantes, quando se sabe que qualquer um se acha no direito de ocupar toda a estrada e receber a vénia daqueles por quem passa.
E, assim, em vez de se acalmarem, os velocipedistas enervam-se e adquirem a impaciência dos infalíveis. Guilherme Duarte assevera nunca ter visto um ciclista em cima do passeio ou a fazer gincana entre os automóveis em fila. «Os ciclistas são Deus na estrada. Perfeitos!» A sua presença perturba a consciência dos sedentários, sobretudo quando se gabam nas redes sociais. Nisso, são iguais aos corredores, sempre prontos a exibir os quilómetros andados e o quanto são saudáveis e ecológicos.
Não fiqueis moralistas!
