O fascínio do “Vá-VÁ”
Mesmo agora, não indo com a frequência que desejava gosto de olhar para a sua esplanada e saber que aquele lugar foi tudo o que o salazarismo não quis que fosse: um lugar livre, de resistência e modernidade.
Passei parte da tarde no Vá-Vá a conversar com a Maria Eduarda Colares e com o Lauro António. Encontro-me, conjuntamente com alguns colegas do IGOT UL, a desenhar um itinerário sobre os lugares de encontro no Bairro de Alvalade e aquilo que fizermos começará sempre pelo Vá-Vá.
O Vá-Vá também foi o meu lugar de encontro quando vivia fascinado pelas miúdas punks de Alvalade. Tive sempre paixões que se volatilizaram mais rapidamente que uma nuvem quando ascende a serra de Sintra trazida pelos ventos húmidos do Atlântico, e muitos delas tiveram o seu ocaso na esplanada do Vá-Vá.
Mesmo agora, não indo com a frequência que desejava gosto de olhar para a sua esplanada e saber que aquele lugar foi tudo o que o salazarismo não quis que fosse: um lugar livre, de resistência e modernidade.
Parte da nossa conversa passeou pelas pequenas histórias e rimo-nos da actual ementa e da sua adaptação a uma clientela envelhecida, mas também transcorremos pelos filmes que lá foram rodados.
Contou-me o Lauro António que durante a rodagem do “Vidas”, de António Cunhas Telles, e numa cena lá rodada, entrara como habitualmente no Vá-Vá para tomar o seu café da manhã e apareceu apressado aquele realizador que quase lhe intimou: – “sobe rapidamente ao 6º andar porque vamos começar a filmar o plano em que o personagem principal telefona para tua casa e nele “apareces” através da tua voz”.
Talvez seja esse o fascínio do Café Vá-Vá, o de ser um cenário permanente para tantos que sempre sonharam construir as suas vidas na cidade moderna dos Verdes Anos.
Mesmo decadente, que nunca desapareça das nossas vidas