És Eva
Desobediente, cravaste em sua carne suculenta teus dentes fortes.
És Eva, a primeira
Destemida, aventureira, inteligente
Que na maçã rosada da árvore
Vislumbraste o travo de sabedoria.
Trincaste-a
Desobediente, cravaste em sua carne suculenta teus dentes fortes.
E foste expulsa
Porque a ti mulher,
Querendo-te submissa,
Era vedado o entendimento das coisas.
Tiveste então que suar o pão que comes
E parir com dores os filhos que dás à cidade
Os filhos,
Não as filhas.
Essas, deviam ficar cerradas em quartos sombrios
Fiando a lã dos animais que livres pastavam debaixo de macieiras
És Eva, a primeira
Destemida, aventureira, inteligente
Que na maçã rosada da árvore
Vislumbraste o travo de sabedoria.
Trincaste-a
Desobediente, cravaste em sua carne suculenta teus dentes fortes.
E foste expulsa
Porque a ti mulher,
Querendo-te submissa,
Era vedado o entendimento das coisas.
Tiveste então que suar o pão que comes
E parir com dores os filhos que dás à cidade
Os filhos,
Não as filhas.
Essas, deviam ficar cerradas em quartos sombrios
Fiando a lã dos animais que livres pastavam debaixo de macieiras
As tuas filhas, Eva
Ainda que guardadas a sete chaves
Transportavam no peito a cimalha da sabedoria sugada por ti,
Daquela maçã sem tempo.
E no crepúsculo dos quartos
E no silêncio das salas
Cozinhavam tisanas salvíficas e preparavam unguentos de ervas que só elas conheciam
Porque só elas podiam habitar os campos em noites de lua cheia.
As tuas filhas, Eva
Foram condenadas à fogueira
Bruxas lhes chamaram
Porque a foice sagrada lhes estava proibida.
Mas elas não se importaram e descobriam a ciência dos corpos e a manipulação das almas
As tuas filhas, Eva
Araram os campos estéreis e das pedras fizeram pão
Vestiram-se de fuligem e o ferro moldaram
Empunharam a caneta e de palavras sulcaram folhas brancas de cadernos que ninguém queria ler.
Agarraram o escopro e da pedra nua cinzelaram anjos e demónios
Apoderaram-se do pincel e de cores desmaiadas fizerem o painel da vida
Pegaram em espadas e em amazonas se tornaram
As tuas filhas, Eva
Saíram para a rua
Porque os quartos adamascados
As salas semi-adormecidas onde o fogo esmorecia
Não as sustinham já.
O suco da sabedoria que tu teimosamente bebeste
Corria-lhes agora nas veias
E elas
Falavam nas praças
Do alto de tribunas
Destemidas, aventureiras, inteligentes
Sem o temor da expulsão
As tuas filhas, Eva
Conquistavam a cidade.