AQUILINO RIBEIRO E O PADRE BALDOMERO CIRIZA – I
(A propósito da antiga Novena de S. Barnabé que acontecia na Lapa e a propósito da actual novena que tem início no dia 1 de Junho) Baldomero, o padre Baldomero, personagem menor dessa galeria de figuras que constroem a tessitura humana de Andam Faunos pelos Bosques, essa ode a uma natureza que traz em […]
(A propósito da antiga Novena de S. Barnabé que acontecia na Lapa e a propósito da actual novena que tem início no dia 1 de Junho)
Baldomero, o padre Baldomero, personagem menor dessa galeria de figuras que constroem a tessitura humana de Andam Faunos pelos Bosques, essa ode a uma natureza que traz em si uma limpidez de Éden, guarda no romance de Aquilino, como essa outra já múltiplas vezes referida, o padre Moura Seco, o nome de baptismo e o quadro idiossincrático da personalidade de ambos, tanto quanto de ambos a conhecemos, a do padre Baldomero ali pouco mais que sugerida.
O padre Baldomero, Baldomero Ciriza de seu real nome, com uma fugaz presença em duas sequentes páginas do romance, deixa como rasto do que terá sido uma episódica passagem sua por uma efabulada geografia que, sem erro, pode configurar-se às Terras do Demo, um gratuito e irracional apelo à prática de um ascetismo guiado por uma inconsequente catequese e uma prática devocional beata que se desenvolve sob o signo da piedosa, também efabulada “Associação do S. C. J.” ao longo de uma extensiva caminhada de actos pios que vão da Via Sacra ao Mês de Maria.
Maria da Encarnação, uma das heroínas do romance, “loirinha, de olhos claros, duma singeleza de anjo”, no dizer de Aquilino, deixara-se envolver pela cativante palavra do padre Baldomero que, como escreve Aquilino, “montado em macho preto, ia de terra em terra apostolizando”, tendo conseguido infiltrar na alma da rapariga com um “ veemente asco pelo mundo a prática mais rigorista do beatério”. Maria da Encarnação, crendo-se iluminada, mensageira a quem Deus confia em sonhos essa missão de cruzada que devolveria a serra à antiga paz patriarcal, foge a todas as “mundanidades da Terra”, afasta-se do empenhado pretendente, Jirigodes, que ainda intentou ganhar com pingues subornos o missionário à sua causa e mal escapa de uma entrada no claustro, em Espanha, para onde o padre Baldomero, dali cidadão, conduzia, com ela, uma “caterva de moças”.
Vem a propósito tentar saber como adveio Aquilino ao conhecimento da real figura do padre Baldomero, frade espanhol da Ordem dos Missionários do Coração de Maria, fundada por Santo António Maria Claret que, com outros frades espanhóis se viera fixar em Portugal, na Casa-mãe de Aldeia da Ponte, concelho do Sabugal, antigo Colégio onde se instala a Ordem de S. João de Deus em 1892 e à qual os frades espanhóis o adquirem em 1898 quando aqueles se deslocam para o Telhal, alargando-se depois a acção de tais missionários a outros estabelecimentos, como por exemplo ao Convento da Fraga, em Ferreira de Aves.
Eram estes padres frequentemente chamados para a realização de Missões piedosas, convocados como pregadores de novenas ou sermões festivos. E foi enquanto pregador de novena que o bom do padre Francisco Pinto Ferreira, antigo professor de Aquilino no Colégio da Lapa do qual manteve posteriormente a direcção, chamou o padre Baldomero Ciriza que ali veio pregar a Novena de S. Barnabé nos longínquos idos de 1900, a que assistiam os alunos do Colégio que Aquilino já não frequentava, ali voltando, com outro dos missionários, o padre Raymundo Torres, também de naturalidade espanhola, para prega a Novena que antecedeu a festa maior do dia 15 de Agosto.
Aquilino demorava-se ainda no Colégio de Lamego, nas tarefas escolares, quando acontecia a novena de 2 a 11 de Junho de 1900 e estaria já em Viseu, em Agosto, frequentando as explicações de António Alves Martins, quando os missionários voltaram à Lapa, não tendo tido deste modo contacto directo com o missionário.
Todavia, os relatos das pregações, o eco de eventuais Missões pregadas na região, a fama que depois corria acerca da oratória deste missionário de quem o Padre Francisco Ferreira diz que “a todos arrancava lágrimas dos olhos e gemidos do coração” vão facilmente chegar a Aquilino, quem sabe se através de sua mãe .(*)
(*) – Em futuro texto se dará mais ampla informação acerca do padre Baldomero Ciriza e da sua presença na Lapa, e das fontes que tal informação fornecem).