“A CDU não pode de forma alguma deixar de apoiar o Movimento Cívico Nacional contra o atentado patrimonial na Praça 2 de Maio, que desrespeita o projeto de Álvaro Siza em Viseu, e subscrever a petição que dá visibilidade a este movimento.
E não podemos deixar de o fazer em coerência com o historial de intervenção que temos acumulado nesta matéria, nesta assembleia, em artigos de opinião, em reiteradas tomadas de posição tornadas públicas.
Entendemos que o primeiro gesto de desconfiguração da obra de Siza Vieira foi consumado quando em 2014 denunciámos o que designámos como atentado paisagístico e cultural. Uma das magnólias foi arrancada para dar lugar a um carrocel que considerámos ali não ter qualquer enquadramento, e que adulterava a perceção estética do espaço. Alertámos mais que uma vez para a insensibilidade com que eram tratados estes seres vivos (as magnólias) em cada montagem e desmontagem de tendas que as impediam de aceder à água da chuva agora que fora arrancado o sistema de rega gota a gota.
Solicitámos em sede de Assembleia Municipal que fosse tornado público o resultado do simulacro de auscultação à população sobre as obras anunciadas. Apenas obtivemos o silêncio como resposta como acontece com a generalidade das questões que colocamos ao executivo.
Repetidamente apelámos ao executivo para que valorizasse e cuidasse da obra com a assinatura de Siza Vieira, autor conhecido e premiado em todo mundo, prémio Pritzka o equivalente ao Nobel da Arquitectura. Sentimos que estávamos sozinhos mesmo quando em junho de 2020 vimos ser rejeitada a moção que apresentámos sobre a defesa do 2 de maio, em sede da Assembleia de Freguesia de Viseu.
Há certamente variadas opiniões estéticas sobre aquela obra, perceções diferenciadas sobre a sua utilidade ou funcionalidade. Se a cidade se apropriou ou não da praça é discutível e envolve razões complexas que seria interessante serem apuradas.
Se as magnólias não tivessem sido truncadas no seu crescimento, o espaço poderia ser mais aprazível e acolhedor, mais frequentado no período diurno dos dias? Muitos viseenses valorizam o silêncio, o espaço aberto, a luminosidade que fazem daquele espaço um oásis na densidade urbana do centro histórico.
Mas o que mais importa aqui denunciar e repudiar, Sr. Presidente, é o processo que por mão do seu executivo deu finalmente visibilidade ao projeto cuja implementação recentemente iniciou. Um processo nada transparente na linha do seu estilo governativo.
O Mercado 2 de Maio não é responsável pelo declínio do comércio tradicional do Centro Histórico, nem passa por ele a solução desse problema. Este declínio deve-se em larga medida ao elevado número de grandes superfícies comerciais instaladas na cidade e aos horários por elas praticados.
Se o grande argumento para destruir a obra, sem ouvir o autor, num gesto de profunda falta de ética, é criar um espaço de eventos e restauração, porque não instalá-lo no Mercado 21 de agosto? Os exemplos de Lisboa e Porto que diz pretender imitar foram justamente implementados em espaços onde funcionavam e continuam a funcionar mercados tradicionais. O Mercado 2 de Maio, destinado por Siza a centro cívico poderia acolher associações ou serviços públicos, fazendo obras de adaptação, mas sem destruir a marca do autor.
Quanto ao parecer da Direção Regional da Cultura, não seria a primeira vez que esta entra em contradição perante um processo de classificação de património.