“Um processo nada transparente na linha do seu estilo governativo”, denuncia Filomena Pires da CDU

Se o grande argumento para destruir a obra, sem ouvir o autor, num gesto de profunda falta de ética, é criar um espaço de eventos e restauração, porque não instalá-lo no Mercado 21 de agosto? Os exemplos de Lisboa e Porto que diz pretender imitar foram justamente implementados em espaços onde funcionavam e continuam a funcionar mercados tradicionais.

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  • 15:44 | Segunda-feira, 01 de Março de 2021
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“A CDU não pode de forma alguma deixar de apoiar o Movimento Cívico Nacional contra o atentado patrimonial na Praça 2 de Maio, que desrespeita o projeto de Álvaro Siza em Viseu, e subscrever a petição que dá visibilidade a este movimento.

E não podemos deixar de o fazer em coerência com o historial de intervenção que temos acumulado nesta matéria, nesta assembleia, em artigos de opinião, em reiteradas tomadas de posição tornadas públicas.

Entendemos que o primeiro gesto de desconfiguração da obra de Siza Vieira foi consumado quando em 2014 denunciámos o que designámos como atentado paisagístico e cultural. Uma das magnólias foi arrancada para dar lugar a um carrocel que considerámos ali não ter qualquer enquadramento, e que adulterava a perceção estética do espaço. Alertámos mais que uma vez para a insensibilidade com que eram tratados estes seres vivos (as magnólias) em cada montagem e desmontagem de tendas que as impediam de aceder à água da chuva agora que fora arrancado o sistema de rega gota a gota.


Solicitámos em sede de Assembleia Municipal que fosse tornado público o resultado do simulacro de auscultação à população sobre as obras anunciadas. Apenas obtivemos o silêncio como resposta como acontece com a generalidade das questões que colocamos ao executivo.

Repetidamente apelámos ao executivo para que valorizasse e cuidasse da obra com a assinatura de Siza Vieira, autor conhecido e premiado em todo mundo, prémio Pritzka o equivalente ao Nobel da Arquitectura. Sentimos que estávamos sozinhos mesmo quando em junho de 2020 vimos ser rejeitada a moção que apresentámos sobre a defesa do 2 de maio, em sede da Assembleia de Freguesia de Viseu.

Há certamente variadas opiniões estéticas sobre aquela obra, perceções diferenciadas sobre a sua utilidade ou funcionalidade. Se a cidade se apropriou ou não da praça é discutível e envolve razões complexas que seria interessante serem apuradas.

Se as magnólias não tivessem sido truncadas no seu crescimento, o espaço poderia ser mais aprazível e acolhedor, mais frequentado no período diurno dos dias? Muitos viseenses valorizam o silêncio, o espaço aberto, a luminosidade que fazem daquele espaço um oásis na densidade urbana do centro histórico.

Mas o que mais importa aqui denunciar e repudiar, Sr. Presidente, é o processo que por mão do seu executivo deu finalmente visibilidade ao projeto cuja implementação recentemente iniciou. Um processo nada transparente na linha do seu estilo governativo.

O Mercado 2 de Maio não é responsável pelo declínio do comércio tradicional do Centro Histórico, nem passa por ele a solução desse problema. Este declínio deve-se em larga medida ao elevado número de grandes superfícies comerciais instaladas na cidade e aos horários por elas praticados.

Há uma enorme nostalgia cultivada pelos viseenses em torno da antiga praça 2 de maio com a qual mantêm afetos fortemente enraizados em vivências de infância. Esta nostalgia alimenta a expectativa de que, a haver obras, elas farão regressar o que foi definitivamente destruído. Pura ilusão. Para que o logro não fosse tão evidente, a lona que exibia imagens de várias épocas do 2 de Maio, foi retirada pelo Executivo do gradeamento, para não serem possíveis as comparações.

Se o grande argumento para destruir a obra, sem ouvir o autor, num gesto de profunda falta de ética, é criar um espaço de eventos e restauração, porque não instalá-lo no Mercado 21 de agosto? Os exemplos de Lisboa e Porto que diz pretender imitar foram justamente implementados em espaços onde funcionavam e continuam a funcionar mercados tradicionais. O Mercado 2 de Maio, destinado por Siza a centro cívico poderia acolher associações ou serviços públicos, fazendo obras de adaptação, mas sem destruir a marca do autor.

Quanto ao parecer da Direção Regional da Cultura, não seria a primeira vez que esta entra em contradição perante um processo de classificação de património.

Trata-se, como é evidente, de uma opção política e não cultural vinculada a uma conceção de cidade e do que deve ser esta de que falamos. Uma opção política errada com a qual não poderemos nunca estar de acordo. Uma opção política que traz no bojo, todos os pressupostos para ser considerada depois de concluída como o golpe final.”

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