Instado pela comunicação social a justificar a permanência, desde Dezembro de 2019, da “cobertura” em plástico, no Mercado 2 de Maio, sonegando intencionalmente a água da chuva às Magnólias do Jardim, o Presidente da Câmara de Viseu, justificou o sucedido com a permanência em lay-off da empresa que “monta” e “desmonta” (por mais de 22 mil euros), a referida tenda.
Desculpa esfarrapada… Na Sessão ordinária da Assembleia Municipal de Viseu, realizada a 28 de Fevereiro de 2020, quando não havia medidas restritivas originadas pela pandemia de COVID-19 e não se vislumbrava a generalização da lay-off, a eleita da CDU naquele órgão, produziu a intervenção que segue:
“Neste contexto o “abarracamento” ou “estufa fria” do 2 de Maio, como também já lhe chamam, modelo estético daquilo em que querem transformar a obra de Sisa Vieira, acaba por ser paradigmático da qualidade do que vai acontecendo no Centro Histórico. Desde Dezembro que a tenda dos eventos da Câmara está montada no local, enclausurando as Magnólias, que por falta de água da chuva, porque a rega gota a gota já há muito foi intencionalmente desligada, estão em stress freático e condenadas ao definhamento.”
Desde então, a empresa já substituiu os “plásticos” da tenda que, entretanto, se haviam rasgado, sinal evidente de que a intenção era mantê-la por tempo indeterminado. A Câmara nada fez porque, premeditadamente, quis liquidar pele sede as Magnólias, para encontrar justificação perante os munícipes para a sua remoção.
Confrontado com o sobressalto público que este inqualificável crime ambiental suscitou, expresso nas mensagens indignadas nas redes sociais e na faixa com a denúncia da situação, colocada no gradeamento do Mercado 2 de Maio (que a Câmara “democraticamente” retirou), o Presidente da Câmara veio a terreiro meter os pés pelas mãos e mentir.
Como podem testemunhar comerciantes e moradores, desde que a tenda foi montada, Novembro/Dezembro de 2019, as Magnólias nunca mais viram gota de água, nem de rega nem da chuva. Como a fotografia em anexo, tirada hoje, 20/05, às 11.30 horas da manhã, que mostra os trabalhadores da empresa a desmontar a tenda, não foi o lay-off da empresa que impediu a retirada da estrutura amovível. Foi, sim, a vontade premeditada e mal-intencionada da Câmara que não o quis.
Com este acto prepotente e mesquinho, fica evidente que Executivo Municipal segue à risca o princípio de que “os fins, justificam os meios”.
Por coincidência, esta semana, foi anunciado outro crime, este cultural, com a adjudicação, por mais de 4,3 milhões de euros(!!!!!!), da cobertura do Mercado 2 de Maio, com o desígnio confesso de naquele espaço promover festas caras, a promoção de muitos vinhos sem pedra nem cancela, iguarias, vida social. Não importa que se vá destruir a obra do arquiteto português mais famoso no mundo. Não interessa para a Câmara que as obras no Mercado 21 de Agosto devam ser prioritárias, no interesse da população, dos comerciantes e da vida económica da cidade. A Câmara fecha os olhos aos estudos que apontam que todos os eventos sazonais que pretende realizar no 2 de Maio, podem ser realizados com vantagem num renovado Mercado 21 de Agosto. Mercado 21 de Agosto que exige obras urgentes que criem condições físicas funcionais, modernas, para acolher os comerciantes atuais e outro comércio tradicional que ali se possa instalar, a par de serviços públicos. A adjudicação das obras no 2 de Maio, são uma opção esclarecedora, que ilustra bem a ordem de preocupações que animam a Câmara.
Em Viseu, no século XXI, por cegueira cultural e mesquinho e mal disfarçado ódio ideológico, os novos bárbaros instalados na Câmara, anunciam ir arrasar gratuitamente uma obra, por mais singela que ela seja, de Siza Vieira, prémio nobel da arquitetura, mestre e criador singular, reconhecido mundialmente. As entrevistas, filmes, documentários, prémios, homenagens de que está a ser alvo o Arquiteto Siza Vieira por toda a parte, do Japão à América, da Alemanha ao Brasil, da Coreia do Sul à Espanha, provam a grandeza e universalidade da sua obra. Ter uma obra de Siza Vieira, é sinal de modernidade e um orgulho para quem a possui. Menos em Viseu. Aqui, os atávicos torquemadas, se a insanidade de destruir a obra de Siza Vieira se consumar, terão nas placas acrílicas que afixarem com datas inaugurais o testemunho da ignomínia do seu ato.
É como se, pressionado por uma qualquer modernidade sem substância, um “iluminado” fizesse um grafiti sobre o quadro da Mona Lisa, assassinando a sua originalidade e natureza.