Ontem, dia 21 de Maio, no Museu do Douro, na Régua, deu-se um decisivo passo na resposta aos anseios dos durienses e por forte empenhamento dos autarcas da CIM Douro, a assinatura do protocolo de requalificação da Linha do Peso da Régua, do troço Pocinho – Barca d’Alva.
Com a presença da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, do secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado, da secretária de Estado da Valorização do Interior, Isabel Ferreira, do presidente da Comissão de Coordenação da Região Norte, António Cunha, do vice-presidente do Turismo do Porto e Norte, Inácio Ribeiro, do presidente da Liga de Amigos do Alto Douro Vinhateiro, António Filipe, do presidente da Câmara do Peso da Régua, José Manuel Gonçalves, do presidente de Vila Nova de Foz Côa, Gustavo Duarte, membros da Comissão de Trabalho da CIM para a Linha do Douro, do presidente da Câmara de Tabuaço, Carlos Carvalho e demais autarcas da CIM Douro, foi assinado o referido protocolo que representa um passo fundamental para o desenvolvimento desta região duriense e um acalentado desejo de todos os parceiros sociais pela Linha do Douro abrangidos.
Para o Presidente da CIM Douro, Carlos Silva Santiago, também presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe, foi “um dia histórico para o Douro”.
Deixamos o essencial da sua alocução:
“É um dia memorável, pois volvidos 33 anos do encerramento do troço entre Pocinho e Barca D’Alva, a Linha do Douro inicia hoje um ponto de viragem rumo à modernização e ao futuro.
É um dia em que cumprimos o desejo de várias décadas, e que ganhou um impulso acrescido pelo trabalho intenso desenvolvido nos últimos quatro anos.
Depois de termos inscrito a Linha do Douro no plano estratégico da CIMDOURO para a década 2020/2030, e depois de ter sido desencadeada uma petição que envolveu os 19 municípios, de termos apresentado este projeto em Portugal e na Europa, o compromisso que hoje o Governo de Portugal assume com o Douro é o reconhecimento do sacrifício, do empenho e vontade das nossas gentes, das nossas associações, das nossas instituições e das nossas empresas.
Razão pela qual agradeço, de forma muito especial, aos colegas e amigos presidentes de câmara da CIMDOURO porque conseguimos, perante uma imensidão de necessidades, de projetos e de investimentos que cada um dos 19 municípios tem, unir-nos em torno dos três projetos estruturais para a região: a Linha do Douro, o IC26 e o Douro Inland Waterway, num exemplo de união e mobilização em torno da mesma estratégia e da mesma vontade para um território tão grande e tão vasto.
Foi isso que nos permitiu chegar ao dia de hoje. Foi a unanimidade conseguida na região que suscitou o envolvimento ativo da sociedade civil, liderada pela Liga de Amigos do Alto Douro Vinhateiro e pela Fundação Museu do Douro, que fez emergir uma petição que reflete a vontade desta Linha, não só para o Douro mas para todo o norte de Portugal, demonstrando que a região conta com uma sociedade civil ativa, interventiva e mobilizadora e que, apesar das adversidades, conhece as suas prioridades.
Agradeço às comissões parlamentares dos diversos partidos na Assembleia da República, que desde a primeira hora, desde o primeiro dia, e todos os anos, sem exceção, sempre nos receberam, sempre nos ouviram, mantendo viva esta aspiração do Douro e não deixando esquecer uma infraestrutura tão necessária para a região.
Agradeço todo o empenho e dedicação que a Comissão de Coordenação da Região Norte teve em torno da Linha do Douro. Com o anterior Presidente, Professor Freire de Sousa, e com o atual, Prof. António Cunha, a Linha do Douro contou sempre com a posição determinada da CCDRN, que nunca recursou esforços para que este assunto fosse sempre entendido como uma prioridade para a região.
Esta linha é estrutural para o Douro. Por isso, hoje será dado um passo importante para que consigamos inverter o abandono a que tem sido votada esta via-férrea na sua secção final, para que atenuemos o fosso entre regiões e possamos propiciar maior mobilidade, coesão territorial e desenvolvimento económico ao Douro e a toda a região norte.
É inegável também o potencial turístico que a Linha do Douro tem para o Norte de Portugal, pois consolida percursos únicos no corredor de Patrimónios da Humanidade, como a cidade do Porto, o Alto Douro Vinhateiro e o Vale do Côa do lado português e, no futuro, Salamanca, do lado espanhol.
Temos perfeita noção de que algumas mudanças operadas no Interior têm que ter um custo social. E esse custo social decorre do esvaziamento populacional a que temos sido votados nas últimas décadas, quer por força da atração exercida pelos grandes centros, quer pelos fenómenos de emigração para países em ascensão.
Mas, na verdade, não temos culpa deste desequilíbrio demográfico desfavorável e muito preocupante. A falta de pessoas e a circunstância em que o Interior se encontra não podem motivar o desinvestimento; a interioridade não pode ser argumento para que os territórios deixem de ser prioritários nos investimentos; a suposta falta de rentabilidade das infraestruturas não pode ser razão para que as regiões fiquem à margem do progresso; o interior, pelas suas circunstâncias particulares, não pode estar dissociado desse custo social, mas a Linha do Douro prova que é rentável só com passageiros, o que confirma que a viabilidade do equipamento existe e o seu potencial é enorme.
Nesse sentido, a Linha do Douro precisa que outros horizontes se abram e que seja encarada como um recurso que tem de ser maximizado e aproveitado em todas as suas possibilidades: no turismo, como elemento primordial de uma região que aspira a referência internacional; e na economia, por forma a valorizar a agricultura e a indústria, atrair investimento e aumentar o peso do Douro na balança comercial nacional.
O desejo autêntico que acalentamos é que a Linha do Douro seja uma referência pelo impacto positivo que promove e assim possamos dispensar indemnizações compensatórias ao seu funcionamento no futuro.
Este pedaço de linha tem tudo para ser uma imagem de marca do Douro e do Norte de Portugal. Da parte do Governo de Portugal recebemos o sinal claro de empenho na concretização da Linha do Douro, pois um protocolo que aponta 90 dias para a realização do estudo é revelador da vontade do Governo, da CIMDOURO e das Infraestruturas de Portugal em avançar com tal investimento.
E todo este dinamismo deve ser também um estímulo para que do lado espanhol vejam o eixo estratégico que ela representa para a dinamização da economia transfronteiriça, para os fluxos turísticos de ambos os lados e para o cumprimento das metas definidas pela União Europeia, que aliás reconheceu o potencial da Linha do Douro para a dinâmica turística e para a coesão social, referindo que só o mercado de passageiros já pagaria todo o investimento na modernização da linha do Douro. Ora, este dado motiva a que se faça uma reflexão profunda, pois se é rentável só com passageiros, poderia tornar-se um caso de sucesso se servisse as mercadorias e as empresas.”
(…)
“Permitam que, a finalizar a minha intervenção, me socorra do lema de vida e grande “ex-libris” do escritor Aquilino Ribeiro – “Alcança quem não cansa”- e o associe ao dia de hoje. Porque hoje o Douro deu provas de que continua a ser terra de gente de causas, de gente que consegue mover montanhas, é capaz de criar um território que é da Humanidade. Hoje o Douro mostrou que não se cansa lutar pelas suas ambições, pelo seu lugar no futuro do País e do Mundo.”
(Fotos Andreia Gonçalves)