Há no 4º tomo de “As Farpas“, de Ramalho Ortigão, um texto que me delicia desde que o li, ganapito, na biblioteca do meu avô.
Aliás, pego nessa 4ª edição, onde o meu avô rubrica o nome, em Coimbra, a 30 de Abril de 1927 e cito, mantendo a grafia:
“Era uma vez um bom rei da Arabia, pacato e divertido. Vivia em seu palacio socegado da vida desfrutando sábiamente as artes da paz. Punha papelotes nas barbas para que encaracolassem melhor. Olhava as moscas que passavam no ar com uma complacencia magnanima. Atirava bolinhas de papel amarrotado aos seus antepassados, que estavam aos cantos das casas representados em porcelana. Fumava o narguillé, encruzado n’um divan, sentado em cima dos calcanhares, tendo os olhos cerrados e fazendo sahir fumo pelo nariz.
O reino mostrava-se satisfeito e contente.
Quando algum subdito patenteava o minimo vislumbre de descontentamento com a marcha dos negocios publicos, o rei mandava carinhosamente que lh’o trouxessem, passava-lhe a mão pela cara fazendo-lhe um carinho, lançava-lhe docememente uma corda ao pescoço, e enforcava-o defronte do palacio.
Gostaram? Tiraram alguma ilação? Fiquem bem…