Campanha de fake news gera indignação no setor agroalimentar.
Organizações ligadas à Alimentação e ao Mundo Rural repudiam as inverdades sobre o agroalimentar e condenam a campanha de rumores sobre uma área de atividade que é indispensável, suporta a sustentabilidade ambiental de Portugal, alimenta os portugueses e é um dos maiores contribuintes para o equilíbrio da balança comercial do país.
Pese embora a resiliência e contributo dos setores agrícola, pecuário e agroalimentar para manter o abastecimento de alimentos em Portugal – indispensáveis, durante os confinamentos inerentes à pandemia, superando todas as dificuldades para os colocar à mesa dos portugueses -, estes setores têm vindo a ser alvo de campanhas difamatórias que, como tal, faltam à verdade e chegam mesmo a transmitir informação contraditória à ação das entidades fiscalizadoras nacionais.
As organizações signatárias consideram que não existem setores sustentáveis e setores insustentáveis, mas sim práticas comerciais sustentáveis e outras não sustentáveis. Para clarificar o debate e torná-lo adequado ao propósito de melhoria contínua e de uma abordagem menos divisionista, os setores agrícola, pecuário e agroalimentar unem-se para dar aos cidadãos a correta informação sobre estas atividades em Portugal, contribuindo, assim, para que possam fazer uma escolha livre, informada e consciente no que respeita às suas opções alimentares.
A emissão de informações propositadamente desequilibradas e ofensivas, sem verificação dos factos, motivam estas organizações ligadas à Alimentação e ao Mundo Rural a assinar o manifesto “Por uma alimentação consciente em Portugal” no qual esclarecem as responsabilidades e contributos dos setores em causa para o aquecimento global, a emissão de gases de efeitos de estufa (GEE), a contaminação ambiental, a saúde e bem-estar animal, o impacto na floresta e o bem-estar social.
Relativamente ao Aquecimento Global e à emissão de GEE o Manifesto esclarece que, segundo o Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), documento do Ministério do Ambiente, a agricultura é responsável unicamente por 10% das emissões nacionais de GEE e por isso lhe atribui uma redução de apenas 11% até 2030 face a 2005. O Manifesto refere igualmente, usando dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que considerados os setores agroflorestal e pecuário, cuja propriedade está concentrada nos mesmos agentes económicos, as emissões são inferiores a 1% e que, segundo o PNEC 2030, a agricultura em Portugal é responsável por apenas 3% do consumo energético nacional. Além disto, uma análise científica do impacto destas atividades inclui considerar o contributo das pastagens para a diminuição do risco de fogos rurais prestado pela pastorícia e atestado pela Agência para a Gestão Integrada de Fogos Florestais (AGIF) no Plano Nacional de Ação de combate a fogos rurais. No que respeita à contaminação ambiental, no Manifesto “Por uma Alimentação Consciente em Portugal” as entidades signatárias referem que, numa década, o país reduziu o uso de fitofármacos em 43%, sendo o Estado-Membro da UE que apresenta uma maior redução da utilização destes produtos.
No que concerne à saúde e bem-estar animal, realça-se que a carne nacional provém de animais que não utilizam promotores de crescimento, situação que seria ilegal, e que as práticas nacionais promovem o bem-estar animal.
No que respeita ao risco de desflorestação, o texto assinado pelas entidades explica que em Portugal não há desflorestação e termina referindo o contributo dos setores para a economia nacional, para a criação de emprego e para o equilíbrio da balança comercial portuguesa.
“Por uma alimentação consciente em Portugal”
Manifesto
Da próxima vez que lhe disserem que o setor agroalimentar é o “mau da fita” ou da próxima vez que comprar alimentos, pense! questione-se! Escolha livremente e consuma português!
Várias mensagens difamatórias e inverdades sobre as práticas agrícolas, pecuárias e agroindustriais têm sido ditas, escritas e transmitidas, por várias vias, quer na imprensa, quer na televisão, quer na rádio, quer mesmo na propaganda política. Informação injuriosa, e até contraditória à que é veiculada pelas autoridades competentes deste país, acerca dos setores pecuário, agrícola e agroalimentar. Os autores desta campanha difamatória, não sabem e não conhecem o alto contributo do Mundo Rural para manter o ecossistema, impedindo o abandono das terras, que teria como uma das consequências inevitáveis a intensificação dos incêndios que ano após ano têm vindo a deflagrar em Portugal.
Consideramos que esta campanha caluniosa tem contribuído para a desinformação dos portugueses, tratando-os de forma desrespeitosa, na tentativa de os manipular.
Defendemos que cada cidadão é livre de fazer as suas escolhas, nomeadamente as alimentares, mas para que essa escolha seja efetivamente livre, o consumidor tem de ser informado, para que possa fazer uma opção consciente.
Assim, as organizações signatárias consideram essencial os seguintes esclarecimentos:
Relativamente a Gases de Efeito de Estufa (GEE) e Aquecimento Global: Sabia que de acordo com os mais recentes dados oficiais em Portugal a agricultura e a pecuária são responsáveis unicamente por cerca de 10% das emissões nacionais de GEE (dados de 2017, em CO2 equivalente). O que significa que a utilização individual de carros tem mais impacto no aquecimento global do que produzir a alimentação para o país. Por esta razão o próprio Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), da responsabilidade do Ministério do Ambiente, atribui uma redução de GEE à agricultura de apenas 11% até 2030 face a 2005.
Especificamente na atividade pecuária importa referir que em Portugal a pecuária é maioritariamente feita em regime extensivo e as pastagens contribuem positivamente para o balanço de carbono. Isso mesmo distingue Portugal e a Europa do resto do mundo, tal como atestado no relatório Climate Action in Rural Areas, do European Network for Rural Development. As pastagens contribuem, ainda, para o incremento do teor de matéria orgânica do solo. Assim, a relação entre a atividade pecuária e as emissões/remoções de GEE tem de ser abordada numa perspetiva holística. Nesta perspetiva holística, se considerarmos o conjunto dos setores agroflorestal e pecuário, uma vez que a grande maioria da floresta é propriedade e, assim, responsabilidade, dos agentes económicos do agroalimentar, percebemos que a contribuição total para as emissões de GEE é inferior a 1%, segundo o Inventário de Emissões da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Outro impacto positivo relevante destes setores para o ambiente é o contributo para a diminuição do risco de fogos rurais que, ano após ano, têm vindo a deflagrar em Portugal, nomeadamente através da pastorícia. Este impacto positivo é reconhecido e atestado pela Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) no seu Plano Nacional de Ação de combate a fogos rurais.
Ainda segundo o PNEC 2030 a agricultura é o setor que menos energia consome, unicamente 3%.
Relativamente à contaminação do ambiente: Sabia que Portugal reduziu, numa década, o uso de fitofármacos em 43%, sendo o Estado-Membro que apresenta uma maior redução da utilização destes produtos? Segundo o Inventário de Emissões da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), existe ainda uma redução de 32% da emissão de óxido nitroso com origem na produção animal entre 1990 e 2019.
Relativamente a saúde e bem-estar animal: Sabia que a carne nacional provém de animais aos quais não são administrados promotores de crescimento? Estando legalmente proibidas de o fazer, as produções pecuárias são punidas e a sua atividade é suspensa, no caso de incumprimento.
Sabia que as condições de criação de animais de pecuária estão sujeitas às regras de bem-estar animal mais exigentes do mundo* por via da legislação europeia, muito mais restritiva que a dos outros produtores de animais, fora da Europa?
Sabia que as práticas nacionais promovem o bem-estar-animal? Segundo o Recenseamento Agrícola (RA) 2019:
· 61% do efetivo bovino é explorado em regime extensivo;
· 12% dos bovinos estabulados pastoreiam;
· Cerca de 2/3 do efetivo suíno estabulado está alojado em instalações de pavimento com grelha parcial.
Relativamente a desflorestação: Sabia que em Portugal a pecuária não contribui para a desflorestação? Segundo o RA 2019:
· Em Portugal não há desflorestação para instalação de pastagens;
· As pastagens convivem com a floresta de montado. Pastagens permanentes ocupam 52% da Superfície Agrícola Utilizada;
· Prados temporários e culturas forrageiras ocupam quase metade da superfície de terras aráveis.
Mesmo considerando as importações no espaço da UE, sabia que 78% da soja (matéria-prima cuja produção está mais sujeita ao risco de desflorestação) é proveniente de zonas de baixo risco de desflorestação e o setor continua a fazer esforços concretos para impactar positivamente o ambiente quanto a este aspeto? No terreno existem já diversas iniciativas neste sentido, nomeadamente o Laboratório Colaborativo FeedInov que tem como um dos seus projetos basilares o desenvolvimento de matérias-primas sustentáveis e alternativas às importadas, bem como soluções nutricionais inovadoras;
Mas outros aspetos desconhecidos devem ser tidos em conta, nomeadamente:
· Os produtos autorizados para a proteção das culturas estão sujeitos a processos de avaliação extremamente rigorosos. Muitas explorações agrícolas e pecuárias já integram tecnologia de ponta na produção e alimentação e utilizam imagens de satélite para identificar com mais precisão as zonas onde é necessário intervir com tratamentos ou com adubação que é, posteriormente, feita através de drones. Isto é, a aplicação é muito localizada, só onde necessária e utilizando a menor quantidade possível destes tratamentos;
· Os agricultores sabem, naturalmente, que as abelhas são essenciais para a polinização das suas culturas e as nossas autoridades também, pelo que, quando necessário, as aplicações não acontecem na altura da floração para não terem impacto nas abelhas;
· A “agricultura intensiva” também é designada por “ecologicamente eficiente” porque produz mais quilos por hectare, utilizando menos fitofármacos e menos água por cada quilo produzido;
· Os efluentes pecuários são utilizados para fertilizar e enriquecer os nossos solos que são muito pobres em matéria orgânica. Desta forma, os agricultores portugueses contribuem para a circularidade e valorização dos recursos que, de outra maneira, seriam resíduos.
Além de tudo o já referenciado, o setor contribui para o desenvolvimento do bem-estar social do país e da economia portuguesa:
· De acordo com o INE, trazemos anualmente para a economia portuguesa 7,5 mil milhões de euros de exportações, produzindo com os mais elevados padrões de exigência, respeitando os animais, o território e as comunidades;
· Em 2020, em plena pandemia, o setor agroalimentar não parou e aumentou mesmo as exportações em 6,7%, dado relevante num ano em que as exportações de todos os setores diminuíram;
· Somos responsáveis pela manutenção de mais de 314.000 postos de trabalho diretos, ou seja, mais de 6% do emprego do país.
Por tudo isto e muito mais, da próxima vez que lhe tentarem passar a mensagem que os setores da pecuária, agricultura e agroalimentar são os “maus da fita” ou da próxima vez que comprar alimentos, pense! questione-se! Escolha livremente e consuma português!
*Decreto-Lei nº 64/2000, alterado pelo Decreto-Lei nº 155/2008, de 07 de agosto (Transposição da Diretiva n.º 98/58/CE, do Conselho, de 20 de julho) – Estabelece as normas mínimas comuns relativas à proteção dos animais nas explorações pecuárias/ Regulamento (CE) nº 1/2005, do Conselho, de 22 de dezembro de 2004- Relativo à proteção dos animais durante o transporte e operações afins/ Regulamento (CE) nº 1099/2009, do Conselho, de 24 de setembro – Relativo à proteção dos animais no momento da occisão
Decreto-Lei n.º 72-F/2003 de 14 de Abril – Transpõe para a ordem jurídica nacional a Diretiva nº 1999/74/CE, do Conselho, de 19 de Julho, relativa à proteção das galinhas poedeiras, e a Diretiva nº 2002/4/CE, do Conselho, de 30 de Janeiro, relativa ao registo de estabelecimentos de criação de galinhas poedeiras.
Decreto-Lei n.º 135/2003, de 28 de junho – Estabelece as normas mínimas de proteção dos suínos alojados para efeitos de criação e engorda, transpondo para a ordem jurídica nacional a Diretiva n.º 91/630/CEE, do Conselho, de 19 de Novembro, relativa às normas mínimas de proteção de suínos, com as alterações que lhe foram introduzidas pelas Diretivas n.ºs 2001/88/CE, do Conselho, de 23 de Outubro, e 2001/93/CE, da Comissão, de 9 de Novembro.
REGULAMENTO (UE) 2017/625 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 15 de março de 2017 – relativo aos controlos oficiais e outras atividades oficiais que visam assegurar a aplicação da legislação em matéria de géneros alimentícios e alimentos para animais e das regras sobre saúde e bem-estar animal, fitossanidade e produtos fitofarmacêuticos
Signatários da iniciativa:
ANEB, ANIL, ANIPLA, ANSEME, APED, APEZ, APIC, APIFVET, CAP, CIP/FIPA, CONFAFRI/FENAPECUARIA, FILPORC, FPAS, IACA, OMV, PLATAFORMA SOCIEDADE ANIMAIS