Movimento cívico Nascer em Coimbra toma posição sobre a vinculação da ex deputada Cristina Rodrigues ao partido de extrema direita português

Repudiamos qualquer ligação entre a defesa dos direitos das mulheres na gravidez e no parto a um partido abertamente antifeminista, anticonstitucional, racista, anti estado social e próautocracia.

Tópico(s) Artigo

  • 11:31 | Sexta-feira, 25 de Março de 2022
  • Ler em 3 minutos

“Face às notícias recentes sobre a vinculação da Sra. Ex Deputada Cristina Rodrigues ao partido de extrema direita português e à “possibilidade de continuar a trabalhar certos temas”, é nosso dever, enquanto movimento cívico de luta pela informação e pelos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, assumir uma posição pública sobre o tema.

Repudiamos qualquer ligação entre a defesa dos direitos das mulheres na gravidez e no parto a um partido abertamente antifeminista, anticonstitucional, racista, anti estado social e próautocracia.

Entendemos e pretendemos esclarecer que um partido que defende a “família natural”, como aquela que é “baseada na relação íntima entre uma mulher e um homem”, no seu programa eleitoral, ignorando a pluralidade do conceito de família (nomeadamente as famílias monoparentais/mães solo e casais do mesmo sexo), não atende às necessidades e desafios das mulheres no contexto e sociedade atuais.


Um partido conservador que, pela ideologia que lhe está inerente, defende a ausência de autonomia da mulher sobre a sua vida e o seu corpo, lhe nega a garantia de direitos reprodutivos, como o acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), e a remete, consequentemente, para uma posição de submissão ao marido e à família, não apresenta legitimidade ideológica para defender um conjunto de direitos assentes na liberdade, autodeterminação e autonomia, que servem de base à luta contra a violência obstétrica.

Apelamos à atenção do movimento feminista para a necessidade de posicionamento efetivo em relação às temáticas 1) da violência obstétrica e seu enquadramento legal, 2) das medidas de combate à pobreza menstrual e de promoção da dignidade menstrual, 3) do direito ao luto na perda gestacional, 4) da licença parental igualitária, assim como 5) do alargamento do prazo legal da IVG e fim do período obrigatório de reflexão, tão prevalentes nos projetos e discursos passados da Sra. Ex Deputada Cristina Rodrigues.

É necessário sensibilizar e educar a população, quer no âmbito da literacia política, quer na vertente dos direitos humanos fundamentais. É impossível falar de violência obstétrica sem falar dos direitos humanos e das mulheres em pleno; é impossível dissociar a dignidade menstrual – alertamos, aqui, para o facto do grupo parlamentar deste partido, na Assembleia Municipal de Lisboa, ter votado contra a distribuição gratuita de produtos menstruais nas escolas do município – dos restantes direitos fundamentais, como a integridade ou a igualdade, direitos previstos numa Constituição que o partido a que nos reportamos mostra desejo de dissolver.

Reafirmamos a nossa presença neste debate, assim como a urgência de evocar e lutar por estas pautas, como parte dos direitos das mulheres, não permitindo a sua usurpação e manipulação, em discursos populistas, com o único objetivo de mover grupos de pessoas com posicionamento político indefinido mas descontentes com a ineficácia de algumas lutas sociais da atualidade.

Devemos tomar as rédeas dos discursos respeitantes aos nossos corpos. Não deixaremos que, mais uma vez, as nossas causas sejam usadas para obter fama, prestígio pessoal ou reconhecimento público – não funciona assim, não dá certo, não admitimos. Não somos degraus políticos. Assim como, fiéis aos valores que sempre temos defendido, não dialogaremos (nem prestaremos qualquer apoio ou consideração) com quem assume uma posição anticonstitucional e que atenta contra direitos humanos fundamentais.

Tendo por base esta premissa, abrimos a possibilidade de subscrição, em nome individual ou coletivo, da nossa tomada de posição contra a eventual “importação” de temas de direitos das mulheres, como é a violência obstétrica, por um partido populista, autodeclarado antifeminista e de extrema direita.”

 

 

Subscrevem, até à data,

Nascer em Coimbra

OVOpt – Observatório da Violência Obstétrica em Portugal

Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto

Por Todas Nós – Movimento Feminista

As Feministas.pt

Cordão

Vânia Simões

Laura Elisabete Figueiredo Brito

Rita Santos

Ana Marinho

Mariana Pereira

Andrea Guerreiro

Marta Cunha Ferreira

Joana Martins

Fátima Negri

Beatriz Pires

Maria Neto da Cruz Leitão

Sofia Cunha

Sandra Silvestre

Mariana Neves Martins

Cláudia Costa

Inês Passos

Vera Lopes

Ana Rita da Silva César

Inês Silva Duarte

Carla Pita Santos

Petra Vaz

Bárbara Araújo

Catarina Rodrigues

Sara

Lara Caeiro

Ana Salomé Paiva

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Última Hora