Com a inflação já situada nos 8 por cento, as condições de vida dos trabalhadores portugueses, particularmente dos mais pobres, estão novamente incomportáveis.
Os meses, as semanas, os dias, custam mais a passar, em todos os aspetos. Depois dos sucessivos confinamentos, temos agora a guerra na Ucrânia e uma crise energética que todos os dias nos assalta a carteira, principalmente quando vamos abastecer os nossos veículos.
As trabalhadoras e trabalhadores parecem não conseguir livrar-se do garrote da austeridade enquanto os lucros de empresas como a Galp Energia ascendem de 26 milhões de euros para 155 milhões de euros neste primeiro semestre e em comparação com o período homólogo.
Como a população do distrito de Viseu bem sabe a alternativa é nula ou quase nula, e no resto do território português a realidade é semelhante. Os transportes públicos foram sendo progressivamente desmantelados ao longo de décadas para promoção do uso do transporte privado individual – uma questão de mercado.
O problema é que esta aposta no desmantelamento dos serviços públicos de transporte não serve, nem a economia – mais para mais em tempos de inflação -, pelo menos uma economia que pretenda servir a sociedade e não se servir dela, nem serve a tal transição energética que é tantas vezes propalada pelos nossos governantes, nacionais e europeus, mas que não passa de palavreado para entreter os mais crédulos e distraídos.
No caso de Mangualde, para dar um exemplo, simplesmente não há transportes públicos rodoviários (autocarros) compatíveis com os horários do maior empregador privado, a Stellantis (ex-PSA), com turnos às 7 da manhã, às 15h e às 23h. A realidade é transversal a praticamente todo o tecido produtivo do concelho.
É urgente repensar todo o modelo de mobilidade coletiva no distrito e cabe às autarquias darem o seu contributo para esta transformação que é inevitável. É preciso adequar a rede do serviço de autocarros, os seus horários e a sua frequência, às necessidades dos trabalhadores e população. Não se compreende o desfasamento entre a escassez na oferta pública destes transportes e as necessidades reais de quem todos os dias, ou quase, se tem de deslocar para o seu trabalho para fazer mover a economia. E não se compreende ainda mais nestes tempos cinzentos em que o combustível está ao preço de um qualquer produto de luxo.
É preciso que as autarquias do distrito e a CIM-VDL (Comunidade Intermunicipal de Viseu Dão Lafões), a qual tem responsabilidade neste âmbito e gere o PART (Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes Públicos), estejam à altura dos seus desafios, que são os desafios de uma sociedade apostada em enfrentar o futuro da mobilidade e que passará, inevitavelmente, pela mobilidade pública e coletiva. A bem da saúde do planeta, do bem-estar dos cidadãos e cidadãs e da carteira de quem trabalha.
Comissão distrital do bloco de esquerda de Viseu