Mercearias proibidas

José Régio anuncia que não irá a Vila do Conde pelo Natal, e que o passará sozinho, na sua casa revestida de antiguidades e muitos santos, escura, ouvindo o som lúgubre do vento e o toque plangente dos sinos para a Missa do Galo.

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  • 17:48 | Sexta-feira, 12 de Novembro de 2021
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«Querido pai», começou José Régio em Dezembro de 1946. Benilde, ou a Virgem Mãe seguira para a companhia de teatro Os Comediantes de Lisboa, que a solicitaram na expectativa de a levar à cena. O pai, apaixonado pelo teatro, que foi ourives por não ter podido ser actor, lia estas notícias com um prazer redobrado e respondia na volta do correio.

José Régio recebera «o caixote com o garrafão, e a caixinha de biscoitos que têm sido muito apreciados». E quanto à remessa de azeite para Vila do Conde? «Todos me dizem aqui», quer dizer, em Portalegre, «ser verdadeiramente arriscado mandar-se agora quaisquer das mercearias proibidas, pois a fiscalização nesse capítulo aumentou, e ainda mais aumentou neste tempo das Festas do Natal. E o pior é que os transgressores já não ficam apenas sujeitos a multas – mas nada mais, nada menos do que à cadeia. Para um professor, seria isso coisa muito grave!»

José Régio anuncia que não irá a Vila do Conde pelo Natal, e que o passará sozinho, na sua casa revestida de antiguidades e muitos santos, escura, ouvindo o som lúgubre do vento e o toque plangente dos sinos para a Missa do Galo.

«Um abraço para o pai do filho muito amigo», recomendou-se, com ternura, o José.


 

 

 

(Fotos DR)

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