“Melhorar as condições económicas da população não é um objectivo”, denuncia Filomena Pires

Não sei se é cinismo ou delírio. Destruir Magnólias, processo que começou com o arranque de uma para instalar o Carrossel e continuou com o corte da rega gota a gota, albardar com toneladas de ferro e fotovoltaicas um espaço arborizado, é segundo o conceito avançadíssimo da maioria no Executivo Municipal, “uma obra (no Mercado 2 de Maio) que projecta um futuro mais sustentável, mais verde e equilibrado no nosso concelho”.

Tópico(s) Artigo

  • 20:14 | Sábado, 27 de Fevereiro de 2021
  • Ler em 4 minutos

Da deputada na Assembleia Municipal de Viseu e referentemente à última sessão ordinária, recebemos a participação de Filomena Pires, da CDU.

“Ponto 1 – Informação do Presidente.

Mais uma vez, a Informação sobre a actividade do Munícipio, legalmente devida à Assembleia, vem servida em 20 densas páginas de encómios, panegíricos e insanáveis contradições.


Começa pela obsessão do Executivo em criar um “Viseu Isto e Aquilo” para tudo. Tantos, que se atropelam e duplicam nas funções e apoios, como acontece com o Viseu Habita o Viseu Ajuda, em várias versões, nomeadamente o de apoio psicológico, o Viseu Entrega, o Viseu Solidário e mais “viseus” que se criam e desaparecem ao sabor das circunstâncias e necessidades da propaganda municipal, como se fosse necessária a nomenclatura, para efectivar a resposta séria e eficaz às necessidades dos cidadãos.

É como aquela história plagiada dos temas anuais para Viseu, pretexto banal para convidar VIPs e amigos mediáticos associados aos temas. Para 2021, recupera o Município a assinatura de “Cidade Jardim”, que tem como objectivo central, e cito: “antes de mais a valorização e desenvolvimento local e só depois o fomento turístico e económico”. Feita a leitura literal do desiderato ficamos a perceber o original conceito de “desenvolvimento” do Executivo. Melhorar as condições económicas da população não é um objectivo. Pelas bandas do Rossio, “desenvolver” é fazer umas “flores mediáticas e caras” improcedentes na elevação social e material dos cidadãos do concelho.

“Cidade Jardim”, enfatiza, e cito de novo:” dá corpo a um conjunto robusto de acções…de valorização turística (ainda umas linhas atrás este era considerado um objectivo secundário) de recursos naturais locais”, fim de citação. Enumera de seguida a Mata do Fontelo, a “Escola de Jardineiros de Viseu”, a ecopista do Vouga, como exemplos do projecto. Depois desta descrição instala-se a dúvida. Viseu Cidade-Jardim é pelo que é ou pelo que pretende vir a ser? Vejamos então alguns exemplos da realidade que temos: no Parque Aquilino Ribeiro desapareceu o Jardim Sensorial de Ervas Aromáticas. Como se pode constatar no local, o Viveiro Municipal do Fontelo está reduzido a nada e uma parte do jardim fronteiro ao Solar do Dão está completamente ao abandono, tal como os tanques de água ali existentes. “Escola de Jardineiros”? Só se for nas instalações dos viveiros avençados da Câmara e para os servir. Na Mata do Fontelo, tirando o despejo paulatino pelo espaço de umas quantas obras do projecto “Poldra”, que ficam por ali até à sua degradação total, está tudo na mesma. Quanto á Ecopista do Vouga, servir o desenvolvimento regional e o ambiente, era ter coragem e visão para defender não a Ecopista mas a construção de um Metro de Superfície no antigo corredor da Linha do Vouga, que servisse a mobilidade diária e pendular das populações de Viseu, S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades, com ligação futura à Linha Ferroviária do Norte. Deve ser por que o ano é dedicado apenas à “Cidade Jardim” que o Parque paradisíaco da Mata de Vale de Cavalos não consta dos desígnios municipais para o ano. Preocupação séria com a “Valorização e Desenvolvimento Local” era ter um projecto arrojado e integrado para a Mata de Vale de Cavalos, que potenciasse o espaço, criasse postos de trabalho e atraísse turistas e visitantes a Côta, Cepões e localidades adjacentes, essas verdadeiramente zonas de baixa densidade populacional merecedoras de investimento nas suas potencialidades naturais. À falta de jardins públicos permanentes no Centro Histórico, “enxertou” a Câmara por vários sítios jardins temporários, que bom rendimento estarão a dar aos viveiros tutelares dos arranjos florais municipais. Em contrapartida, espaços no Centro Histórico arborizados, que custaram ao Município centenas de milhares de euros e poderiam constituir uma mais valia ambiental e um lugar de lazer para as famílias, estão destinados pelo Executivo ao negócio dos Parques de estacionamento, exactamente no Centro Histórico, de onde se diz querer retirar os automóveis.

Enaltecer os investimentos privados na área da saúde no concelho, são uma satisfação incontida para o Sr. Presidente, tal como transformar os trabalhadores municipais em “cobaias” das experiências científicas da Universidade Católica. Reclamar para o Hospital de S. Teotónio a construção do Centro Oncológico, isso não que pode trazer à memória o rocambolesco caso da não candidatura do Centro porque a administração hospitalar da altura chegou atrasada aos correios com o processo.

Também se regozija com o investimento que está a fazer em S. Pedro de France em água e saneamento ao domicílio. Diz mesmo que, e cito: “o fornecimento de água e a instalação de saneamento contribuem para fixar populações”, fim de citação. Não podia estar mais de acordo. Lamentável é que, em pleno século XXI, existam aglomerados populacionais no nosso concelho sem esse direito humano que é ter na habitação água potável e saneamento público, enquanto o Município esbanja milhões de euros em festas e propaganda, mostrando que não é o bem-estar das populações a sua prioridade.

Enfatiza de novo a importância da ligação Avenida Europa/Santo Estevão. Não duvido que veio facilitar a circulação aos moradores. Só que a preocupação devia ser mais abrangente. Por exemplo com a falta de iluminação durante a noite nas passadeiras para peões, como acontece na Rotunda da Feira Semanal e na Rotunda de Nelas onde a iluminação intercalada deixou as passadeiras praticamente às escuras. Ou com as vias de comunicação nos meios rurais. Várias pessoas me fizeram chegar queixas sobre o estado deplorável, quase intransitável, da antiga estrada da lixeira, que é uma alternativa mais curta para milhares de pessoas das localidades essencialmente de Rio de Loba, Cavernães, Barbeita ou para quem vem de Fragosela em direcção à 229.

Não sei se é cinismo ou delírio. Destruir Magnólias, processo que começou com o arranque de uma para instalar o Carrossel e continuou com o corte da rega gota a gota, albardar com toneladas de ferro e fotovoltaicas um espaço arborizado, é segundo o conceito avançadíssimo da maioria no Executivo Municipal, “uma obra (no Mercado 2 de Maio) que projecta um futuro mais sustentável, mais verde e equilibrado no nosso concelho”.

Pode haver, com toda a legitimidade, várias opiniões sobre as virtudes do atual projeto e a funcionalidade do Mercado 2 de Maio. Mas é de uma insensibilidade cultural e estética sem limites destruir o que existe contra a opinião do autor vivo da obra.

Fui repetindo nas inúmeras vezes que trouxe o tema à discussão na Assembleia Municipal, que ter uma obra de Siza Vieira, é, em todo o mundo, sinal de modernidade e um orgulho para quem a possui. Menos em Viseu. Em Viseu, no século XXI, por cegueira cultural e mal disfarçado ódio político, os novos bárbaros pretendem arrasar gratuitamente uma obra, por mais singela que ela seja, de Siza Vieira, prémio nobel da arquitetura, mestre e criador singular, reconhecido mundialmente. Ainda estamos a tempo de parar este crime.”

Viseu, 26/02/2021

A Eleita da CDU na Assembleia Municipal de Viseu Filomena Pires

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Última Hora