Jair Bolsonaro e as “fake news”

“Nós estamos num governo sem corrupção.”

Tópico(s) Artigo

  • 12:08 | Quarta-feira, 24 de Agosto de 2022
  • Ler em 7 minutos

Jair Bolsonaro foi o primeiro dos candidatos à presidência da República do Brasil a ser entrevistado durante o Jornal Nacional – aquele com o maior índice de audiência – da TV Globo (dia 22).

A entrevista foi feita pelos jornalistas Renata Vasconcellos e William Bonner. Seguiu-se-lhe Ciro Gomes (PDT), na terça (23); e teremos Lula, na quinta (25); e Simone Tebet, na sexta (26).

 


Igual a si mesmo, tenso, agressivo e frequentemente incorrecto quando perante áreas sensíveis onde as “argoladas” cometidas foram relevantes, Bolsonaro foi confrontado com várias afirmações proferidas que, quando lhe eram negativas, apodou de “fakes”.

De seguida, a equipa do “polígrafo” local, tentou apurar a verdade sobre essas afirmações.

Aqui seguem algumas delas, não a totalidade, sendo a bold a afirmação analisada:

“Você não está falando a verdade quando diz ‘xingar ministro’. Isso é um fake news da sua parte.”

Em julho de 2021, Bolsonaro chamou o ministro Luis Roberto Barros de idiota e imbecil: “Só um idiota para fazer isso aí. É um imbecil. Não pode um homem querer decidir o futuro do Brasil na fraude.”

No mês seguinte, em agosto, Barroso foi chamado de “filho da puta” por Bolsonaro, em Joinville. “Aquele filho da puta (…) está atrás de mim. Aquele filho da puta do Barroso.”

Em setembro de 2021, durante as manifestações do dia 7, o presidente chamou Moraes de “canalha”: “Sai, Alexandre de Moraes, deixe de ser canalha, deixe de oprimir o povo brasileiro.”

 

“Em menos de 48 horas cilindros [de oxigênio] começaram a chegar em Manaus.”

A principal fornecedora de oxigênio para o Amazonas, a empresa White Martins, comunicou ao Ministério da Saúde a dificuldade de produção do insumo em 8 de janeiro de 2021, segundo a Procuradoria Geral da República (PGR).

A crise da falta do insumo, que resultou em pelo menos 30 mortos, eclodiu quase uma semana depois, nos dias 14 e 15. A capacidade de três fornecedores da região era de 28,2 mil metros cúbicos diários. Mas a demanda chegou a 76,5 mil metros cúbicos em 14 de janeiro.

De fato, na madrugada do dia 15, aviões carregados com cilindros de oxigênio chegaram ao estado. Mas eles não foram encaminhados pelo governo federal e, sim, por São Paulo e por uma empresa fornecedora. O então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou, naquele dia, que o governo não tinha capacidade para transportar cilindros por conta própria.

Ainda segundo a PGR, desde 6 de janeiro havia a recomendação de transferência dos pacientes graves para outros estados, o que só ocorreu dez dias mais tarde. A operação, responsável pela transferência de mais de 500 pacientes, se estendeu até 10 de fevereiro.

À época, artistas fizeram campanha para mandar cilindros de oxigênio aos hospitais do Amazonas. O governo da Venezuela também doou oxigênio a Manaus. Os mais de 100 mil metros cúbicos chegaram quatro dias depois de a crise eclodir.

Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro se defendeu e disse que “não é competência” e “nem atribuição” do governo federal levar oxigênio para o Amazonas, e que não houve omissão diante da crise.

 

“Nós estamos num governo sem corrupção.”

Ministros do governo de Jair Bolsonaro são alvos de diversas investigações por suspeita de corrupção que estão em andamento. Em 2021, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi acusado de participar de um grupo de exportação ilegal de madeira. As investigações da Polícia Federal apontaram para a existência de um “esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”, que teria o envolvimento de Salles e de gestores do ministério e do Ibama.

Também em 2021, o então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, foi acusado de pedir um dólar de propina por cada dose adquirida de vacina contra a Covid-19.

Em 2022, entre os casos que ganharam repercussão está o do ex-ministro da educação, Milton Ribeiro, que chegou a ser preso pela Polícia Federal. Ele é investigado por corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência por suposto envolvimento em um esquema para liberação de verbas do MEC. Ribeiro é suspeito de favorecer cidades que possuíam o intermédio de pastores aliados do ministro. Prefeitos denunciaram ainda pedidos de propina em troca da liberação de recursos para os municípios.

 

“O lockdown durou mais de um ano.”

O Brasil nunca adotou um “lockdown” rígido como o aplicado em países europeus ou na China, por exemplo, em que houve o fechamento total de bairros, ruas, fábricas e paralisação da construção civil.

O Supremo Tribunal Federal decidiu, em 15 de abril de 2020, que os governos estaduais e municipais teriam o poder para determinar regras de isolamento, quarentena e restrição de transporte e trânsito em rodovias devido à pandemia.

A partir dessa decisão, cada governo passou a tomar medidas de forma diversa. Em junho de 2020 ano, por exemplo, o estado do Rio de Janeiro já havia liberado a circulação de pessoas em qualquer ambiente público desde que utilizando máscaras. Já no estado de São Paulo, foi adotado o fechamento faseado de apenas de alguns setores do comércio, por regiões.

Mesmo as fases com medidas mais restritivas duraram apenas alguns meses.

 

“Até hoje é desconhecido ainda os efeitos possíveis, efeitos colaterais da vacina.”

Os efeitos colaterais são conhecidos e citados nas bulas dos imunizantes registradas e aprovadas pela Anvisa. Os próprios laboratórios disponibilizam as bulas com todas essas informações online das vacinas aplicadas no Brasil: AstraZeneca, Pfizer, Coronavac e Janssen. Os documentos também informam sobre as condições de saúde nas quais a aplicação da vacina não é recomendada.

A Organização Mundial da Saúde informa que os efeitos colaterais relatados das vacinas Covid-19 têm sido, em sua maioria, leves a moderados e não duraram mais do que alguns dias. Efeitos colaterais típicos incluem dor no local da injeção, febre, fadiga, dor de cabeça, dor muscular, calafrios e diarreia. E as chances de que ocorra qualquer um desses efeitos colaterais após a vacinação variam de acordo com a vacina. Os efeitos colaterais menos comuns já relatados incluíram reações alérgicas graves como anafilaxia; no entanto, segundo a OMS, essa reação é extremamente rara.

 

“Eu não errei nada do que eu falei [sobre a pandemia].”

Bolsonaro cometeu uma série de erros, ao falar sobre a pandemia da Covid-19. Veja exemplos:

1.     Bolsonaro disse que a eficácia de máscaras é “quase nenhuma” — Há consenso na comunidade científica que máscaras protegem as pessoas do vírus da Covid-19. Nesta reportagem, o g1 reuniu quatro estudos que mostram a importância do equipamento de segurança.

2.     Bolsonaro orientou uso de cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina contra a Covid-19 — Os remédios são comprovadamente ineficazes contra o novo coronavírus, segundo diversos estudos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também orientou que a hidroxicloroquina não deve ser usada como prevenção à doença.

3.     Bolsonaro cita IgG alto para não tomar vacina — O g1 listou uma série de motivos, apontados por médicos e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que mostram o porquê é um erro considerar o IgG isoladamente como sinal de imunidade contra a Covid.

4.     Bolsonaro afirmou que um suposto relatório do TCU lançaria dúvidas sobre parte dos óbitos registrados em decorrência da pandemia — O Tribunal de Contas da União, no entanto, negou que emitiria relatório questionando o número de mortes por Covid-190.

5.     Em fevereiro de 2020, Bolsonaro disse que “pequena crise” do coronavírus é “mais fantasia” e não “isso tudo” que a mídia propaga — A doença paralisou os mercados globais, com o registro de uma recessão global, além de ter provocado a morte de mais de 6,6 milhões de pessoas, entre elas 682 mil brasileiros.

 

“Nova Iorque mostra isso aí [mais pessoas se contaminaram com Covid-19 por ficar dentro de casa].”

Desde o início da pandemia circulam informações falsas sobre uma fala atribuída ao então governador de Nova York, Andrew Cuomo, sobre a contaminação dentro de casa. Mensagens nas redes sociais diziam, erroneamente, que ele havia usado um levantamento com pacientes de Covid-19 do Departamento de Saúde do estado para provar a ineficácia do isolamento social como forma de conter o avanço da doença.

Na ocasião, um levantamento realizado em maio de 2020 sobre pacientes hospitalizados por Covid-19 mostrava que 66% estavam isolados em casa. No entanto, Cuomo em nenhum momento usou essa informação para desacreditar o isolamento social, mas, sim, para pedir que as pessoas reforçassem os cuidados pessoais necessários, como a higienização das mãos e o uso de máscaras, e que evitassem visitar outras pessoas.

Procurada pelo g1, a equipe de Cuomo disse que ele não disse ser contra o isolamento social nem afirmou que ele se mostrou ineficiente, pelo contrário, e enviou o trecho de uma entrevista dada por ele a um programa de televisão no dia seguinte à divulgação desses dados. “Agora, chegamos a um nível em que é puramente comportamento pessoal”, afirmou o então governador de Nova York.

Ou seja, as pessoas que estavam em casa foram contaminadas porque tiveram contato com alguém infectado que não seguiu as regras do isolamento, conforme mostram estudos realizados ao longo da pandemia, como uma pesquisa dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KCDC), de 20 de janeiro de 2020 a 27 de março daquele ano. Este estudo apontou que as pessoas tinham cinco vezes mais chances de pegar o coronavírus por meio da própria família do que de contatos externos. Além disso, as taxas de infecção dentro de casa eram mais altas quando os primeiros casos confirmados eram em adolescentes. Em conclusão, isso reforçava os conselhos de cientistas para manter o ensino remoto, pois a reabertura das escolas podia desencadear novos surtos.

 

“No meu tempo, não era centrão. Não existia centrão.”

O Centrão é um grupo suprapartidário com perfil de centro e de direita criado durante a Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição de 1988.

O grupo, que conseguiu alterar as normas regimentais que organizavam os trabalhos constituintes, era formado por integrantes do PFL, PMDB, PDS, PTB, PL e PDC.

Deputado federal do início dos anos 1990 até ser eleito presidente, em 2018, Bolsonaro integrou diversos partidos considerados como a base do Centrão, como PDC, PPR, PPB e PP. Nesse período, houve momentos de maior força e menor relevância desse grupo nos diferentes governos brasileiros.

O termo “centrão” caiu em desuso nos anos 90, apesar de seus partidos comporem a base do governo FHC, especialmente o PFL e o PTB. O grupo perdeu poder com a chegada de Lula à presidência em 2003, mas voltou a ganhar destaque em 2005, com a eleição de Severino Cavalcante (PP) como presidente da Câmara dos Deputados.

Bolsonaro integrou o PP de 2005 a 2016. Nesse período, assistiu a recriação do Centrão já nos moldes atuais a partir de 2014. O processo foi capitaneado por Eduardo Cunha (PMDB), que vindo do “baixo clero”, chegou à presidência da Câmara no ano seguinte apoiado por uma ala de deputados denominada “blocão”, e acabou comandando o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Esse mesmo “blocão” deu origem ao que se conhece hoje como o atual Centrão.

Em 2017, Bolsonaro trocou o PP pelo PSC. Em 2018, foi para o PSL, já para disputar a presidência da República.

 

“Nós pegamos 2020 e 2021 e tivemos um saldo positivo de quase 3 milhões de empregos no Brasil, diferente de 2014 e 2015, que tivemos uma perda de quase 3 milhões de empregos no Brasil.”

Em 2021, foram criados 2,73 milhões de empregos com carteira assinada. Já em 2020, foram perdidas 191 mil vagas formais. O saldo dos dois anos é de 2,53 milhões de empregos criados, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Já nos anos de 2014 e 2015, o saldo é negativo – 1,12 milhão de empregos fechados. Em 2014, 420 mil vagas foram criadas. Já em 2015, 1,54 milhão de empregos foram fechados.

 

Fonte “g1, TV Globo, GloboNews”

(Foto DR)

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Última Hora