No próximo dia 19 de outubro, pelas 16h00, é inaugurada em Aveiro a instalação Houses of the Wind, que junta uma composição musical de John Luther Adams – vencedor de prémios como Pulitzer e Grammy – a uma intervenção arquitetónica do Diogo Aguiar Studio.
O projeto, criado especificamente para Aveiro 2024 – Capital Portuguesa da Cultura, tem curadoria musical de Martim Sousa Tavares e poderá ser visitado até 2 de novembro no Teatro Aveirense. A entrada é gratuita.
O ponto de partida da instalação é uma obra musical de John Luther Adams – intitulada Houses of the Wind – composta a partir de gravações de campo no Alasca (EUA), com sons de uma harpa eólica, instrumento colocado na natureza e acionado pelo vento. É uma peça que foge aos cânones do compositor, já que envolve apenas a manipulação de sons, sem qualquer intervenção de intérpretes musicais. Com esta obra, o músico – que durante vários anos foi ativista ambiental – presta homenagem ao Alasca, onde viveu durante 40 anos, e propõe uma reflexão sobre o estado atual do mundo, num exercício que tem nas alterações climáticas um eixo fundamental.
Foi a partir desta composição musical que o Diogo Aguiar Studio construiu a sua intervenção, que teve por base a consciência ecológica presente no trabalho de John Luther Adams. O atelier – reconhecido pelo seu trabalho entre a arquitetura e a arte – combina uma construção têxtil, que estará suspensa na Sala Estúdio do Teatro Aveirense, com um jogo de luzes, com o intuito de proporcionar uma experiência imersiva que transporta o público para a imensidão dos brancos das paisagens do Alasca. Um exercício que também alude aos montes brancos das salinas aveirenses, semelhantes ao Alasca tanto nas suas topografias abstratas como nas suas formas, na sua cor e sugestão de movimento.
É da relação entre som e beleza cénica que se faz a instalação Houses of the Wind no Teatro Aveirense, num convite à contemplação, à observação e à escuta, potenciado pela evolução lenta e progressiva da música e da luz.
Este projeto tem curadoria musical de Martim Sousa Tavares e deriva da candidatura de Aveiro a Capital Europeia da Cultura em 2027, cumprindo o objetivo de integrar algumas das suas propostas na programação de Aveiro 2024 – Capital Portuguesa da Cultura.
BIOGRAFIAS:
John Luther Adams
Para John Luther Adams (JLA), a música tem representado uma busca por um lugar a que possa chamar seu, desenvolvida ao longo da vida – um convite para abrandar, escutar e lembrar o nosso lugar na vasta comunidade da vida na Terra.
Ao viver quase 40 anos no norte do Alasca, JLA descobriu um mundo musical único, baseado no espaço, na quietude e nas forças elementares. Nas décadas de 1970 e 80, trabalhou a tempo inteiro como ativista ambiental, mas chegou o momento em que se sentiu obrigado a dedicar-se inteiramente à música. Fez essa escolha acreditando que, em última análise, a música pode fazer mais do que a política para mudar o mundo. Desde então, tornou-se um dos compositores mais admirados do mundo, recebendo o prémio Pulitzer, um Grammy e muitas outras homenagens.
Em obras como Become Ocean, In the White Silence e Canticles of the Holy Wind, Adams traz para a sala de concertos o sentimento de admiração sentida ao ar-livre. E em obras ao ar-livre, como Inuksuit e Sila: The Breath of the World, usa a música como forma de recuperar as nossas ligações com o lugar, onde quer que estejamos.
Uma profunda preocupação com o estado do planeta e com o futuro da humanidade leva Adams a continuar a compor. Como diz: “Se conseguirmos imaginar uma cultura e uma sociedade em que cada um de nós se sinta profundamente responsável pelo seu próprio lugar no mundo, então poderemos ser capazes de dar vida a essa cultura e a essa sociedade.”
Desde que deixaram o Alasca, JLA e a sua mulher, Cynthia, têm vivido nos desertos do México, do Chile e do sudoeste dos Estados Unidos.
Diogo Aguiar Studio
Diogo Aguiar Studio é um atelier de arquitetura português fundado no Porto, em 2016.
O atelier opera nos campos da Arte e Arquitetura, concebendo pequenos edifícios, interiores e instalações espaciais para o espaço público, temporárias ou não, acreditando que a prática ambivalente informa e impulsiona o trabalho desenvolvido, enquanto investigação especulativa e espacial.
Os seus interesses focam-se na exploração material e sensorial de espaços arquitetónicos ou artísticos, imersivos, sejam arquétipos ou ready-mades, através de composições geométricas, abstratas e elementares, que se apresentam como sistemas formais conscientes da experiência simultânea do (espaço) cheio e do (espaço) vazio, procurando reivindicar a relevância do desenho do espaço em Arquitetura.
Nos últimos anos, a prática tem sido distinguida com várias nomeações para prémios internacionais, nomeadamente: Prémios FAD 2018, Prémio BigMat 2019, Prémio Europe 40 under 40, Prémio Mies van der Rohe 2022, entre outros.
Recentemente, o Diogo Aguiar Studio é uma das 25 práticas mundiais escolhidas para a ArchDaily New Practices of 2023.
Sobre Diogo Aguiar:
Diogo Aguiar é arquiteto, licenciado pela FAUP (2008). Foi cofundador dos LIKEarchitects (2010 – 2015), selecionados para a Representação Oficial Portuguesa na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2014.
Em 2016, estabelece Diogo Aguiar Studio, um atelier multidisciplinar que trabalha entre as fronteiras da arte e da arquitetura, selecionado para a Representação Oficial Portuguesa na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2018.
É cofundador e cocurador da Galeria de Arquitetura, um espaço independente de reflexão e debate sobre arquitetura, cidade e território.
Foi cocurador do programa de Arquitetura na Bienal de Arte Contemporânea da Maia (2019), Professor Auxiliar Convidado no Mestrado em Arquitetura no ISCTE-IUL (2020- 2021) e, desde 2021, é Professor Assistente Convidado no Mestrado em Arquitetura na FAUP, lecionando Projecto I.
Em 2023, Diogo Aguiar foi também curador adjunto de Fertile Futures, a 18.ª Representação Portuguesa na Exposição Internacional de Arquitectura – La Biennale di Venezia, com curadoria de Andreia Garcia, focada nos temas da sustentabilidade e do futuro do planeta, a partir de sete hidrogeografias portuguesas.
Martim Sousa Tavares
Ativo principalmente enquanto maestro, tanto na posição de diretor musical como maestro convidado, Martim Sousa Tavares conta colaborações com orquestras de oito países e algumas das principais orquestras nacionais. Recentemente, estas incluem a Orquestra da Rádio da Roménia, Orquestra Gulbenkian, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra do Algarve, Orquestra Filarmonia das Beiras, Orquestra do Norte, entre outras.
É avesso à especialização num repertório específico e pratica com igual entusiasmo a música antiga e a criação contemporânea, vivendo esta profissão com especial sentido de missão no que diz respeito a um pensamento ecossistémico da música clássica. Quer isto dizer que lhe interessam, acima de tudo, a reflexão e reinterpretação do repertório canónico, assim como a que considera ser muito necessária (re-)descoberta e (re-)valorização de autores marginais ou emergentes como Florence Price, Nathan Bales, Johanna Beyer, John Luther Adams, Tiago Derriça, entre muitos outros aos quais se tem dedicado.
Assume um compromisso com a equidade na programação musical, mas também com a descentralização e a acessibilidade radical no acesso à música clássica. Por essa razão, tem gosto em dizer que já dirigiu orquestras em cidades como Rio de Janeiro, Madrid, Chicago, São Petersburgo, Milão ou Lisboa, mas também – e com igual entusiasmo – em locais como Rapoula do Côa (Sabugal), Orjais (Covilhã), Colmeal da Torre (Belmonte), Atalaia do Campo (Fundão), Benquerença (Penamacor), Carvalhal Redondo (Nelas) ou Pínzio (Pinhel).
Foram seus mentores, por esta ordem, os seguintes maestros: Gilberto Serembe, Umberto Benedetti Michelangeli, Victor Yampolsky, Alan Pierson, Christopher Rountree.
Com a Orquestra Sem Fronteiras venceu em 2022 o Prémio Carlos Magno para a Juventude, uma iniciativa do Parlamento Europeu para premiar os valores de união na Europa, o Prémio Carlos de Pontes Leça da Fundação Mirpuri e uma menção honrosa do prémio Portugal Justo da Fundação Manuel António da Mota.
(Foto Christopher Boswell)