Estudo internacional confirma o papel do vulcanismo na extinção em massa dos dinossauros

Os resultados obtidos «confirmam que as erupções vulcânicas do Decão tiveram início antes de um meteorito ter colidido com a Terra, antes da morte dos dinossauros, e continuaram depois. Ou seja, o vulcanismo do Decão pode ter sido uma das principais causas para a extinção dos dinossauros»

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  • 12:09 | Quinta-feira, 28 de Outubro de 2021
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Um novo estudo internacional, liderado pelo investigador Eric Font, da Universidade de Coimbra (UC), confirma a tese de que erupções vulcânicas gigantes contribuíram para a extinção em massa dos dinossauros.

Este estudo, que envolveu também cientistas da Alemanha, China e Suíça, acaba de ser publicado na prestigiada revista científica Geology e promete reacender o debate junto da comunidade científica.

A causa da extinção em massa de espécies terrestres e marinhas, incluindo os dinossauros, no período Cretácico-Paleogénico(K-Pg), há 66 milhões de anos, tem sido um tema muito debatido entre a comunidade científica internacional. Durante várias décadas prevaleceu a teoria de que foi o impacto de um meteorito (o Chicxulub) na Terra que provocou a extinção em massa dos dinossauros e de outras espécies. No entanto, «na mesma época (Cretácico-Paleogénico), houve erupções vulcânicas de dimensões gigantescas, na Província magmática (vulcânica) do Decão, na atual Índia, que poderiam ter contribuído também, ou até principalmente, para a extinção em massa», conta Eric Font.


Contudo, a dificuldade «em conseguir datar com precisão as erupções que ocorreram no continente, através do registo paleontológico e da camada de irídio [elemento químico raro na Terra, mas abundante em meteoritos] essencialmente preservada em sedimentos marinhos, gerou algumas questões, nomeadamente: o vulcanismo começou antes (e pode ter contribuído para) ou depois (e não pode ter contribuído para) da extinção em massa? Este vulcanismo teve um impacto global? Qual foi o seu impacto no clima da Terra e na vida terrestre?», explica o investigador e docente do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Em 2016, um estudo, também liderado pela equipa de Eric Font, demonstrou que o vulcanismo do Decão se iniciou antes do impacto do meteorito e permaneceu durante e após este impacto. A descoberta foi baseada em quantidades anómalas de mercúrio (Hg) registadas nos sedimentos marinhos de Bidart, cidade francesa, «onde estão preservados os sedimentos correspondentes ao período do Cretácico-Paleogénico. Este afloramento é conhecido mundialmente por ter preservado a famosa camada de irídio que foi depositada pelo meteorito (que supostamente matou os dinossauros)».

«Na Terra, o mercúrio é um elemento produzido essencialmente por atividade antropogénica ou pelo vulcanismo. Porém, desde a publicação do nosso trabalho de 2016, houve um debate sobre a origem deste Hg, sendo que os meteoritos podem também conter quantidades significativas de Hg», refere o investigador da FCTUC. Para esclarecer as dúvidas, a equipa de Eric Font voltou a estudar, ao longo dos últimos três anos, os sedimentos marinhos de Bidart, complementando a investigação de 2016 e usando novas técnicas (isótopos de Hg) que permitem identificar a fonte do mercúrio. Os resultados agora publicados na Geology demonstraram uma origem vulcânica para este Hg, através da sua emissão para a atmosfera e posterior deposição dos sedimentos.

 

 

Os resultados obtidos «confirmam que as erupções vulcânicas do Decão tiveram início antes de um meteorito ter colidido com a Terra, antes da morte dos dinossauros, e continuaram depois. Ou seja, o vulcanismo do Decão pode ter sido uma das principais causas para a extinção dos dinossauros», assevera Eric Font.

O “supervulcão” do Decão «teve claramente um efeito global. Se o impacto de Chicxulub foi a “gota de água que fez transbordar o copo” ou foi um evento inconsequente que ocorreu durante uma extinção que já tinha sido provocada pelo vulcanismo, ainda está por esclarecer», afirmam os cientistas no artigo cientifico.

 

(Foto DR)

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