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Estudo da UC permite descontaminar máscaras de proteção contra a Covid-19 de forma simples e barata

A nebulização com peróxido de hidrogénio é um método igualmente simples, mas requer um pequeno investimento – a aquisição do nebulizador e de uma câmara. «É um sistema apropriado para PMEs ou para centros de saúde, quartéis de bombeiros, esquadras de polícia, municípios, entre outros»

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    • 17:15 | Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2021
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    Uma equipa multidisciplinar da Universidade de Coimbra (UC) estudou e testou três formas simples e baratas de descontaminação de vários tipos de máscaras de proteção contra a Covid-19, que revelaram uma eficácia de praticamente 100 por cento, permitindo vários ciclos de reutilização.

    O estudo, coordenado por Marco Reis, docente e investigador do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), abrangeu máscaras cirúrgicas, KN95 e máscaras sociais – os tipos de máscaras mais usadas –, e teve como objetivo testar métodos de descontaminação simples e eficazes, passíveis de chegar a vários setores da sociedade, especialmente pequenas e médias empresas (PMEs) e público em geral, de modo a mitigar um problema ambiental complexo gerado pela pandemia de Covid-19.

     


     

    «O acesso generalizado a aparelhos de proteção respiratória (APR) é um elemento essencial no combate a qualquer crise pandémica. Porém, o seu uso massificado gera um problema ambiental, uma vez que as máscaras são tratadas como lixo comum – para não mencionar a existência frequente de APRs usados nas ruas e passeios, o que constitui em si mesmo um risco para a saúde pública», fundamenta o coordenador do estudo, que teve a colaboração do Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal (CITEVE).

    Além disso, acrescenta, «nos picos pandémicos, podem existir situações de rutura no acesso a APRs. Uma solução eficaz para ambos os problemas passa pelo seu reuso, em condições de segurança».

    Após a análise de um vasto leque de protocolos de descontaminação existentes, a equipa decidiu focar-se em três métodos: lavagem com uma solução de hipoclorito de sódio diluído (a vulgar lixívia), nebulização com peróxido de hidrogénio (a conhecida água oxigenada) e esterilização por vapor de água em micro-ondas. Dependendo do contexto de utilização, «estes métodos são facilmente implementados e não requerem grandes investimentos. Para as famílias, a lavagem com uma solução de hipoclorito de sódio e a esterilização a vapor em micro-ondas são as soluções com maior potencial. Aliás, os sacos de esterilização a vapor já são usados atualmente, por exemplo, para esterilizar produtos para bebés», diz o investigador.

    A nebulização com peróxido de hidrogénio é um método igualmente simples, mas requer um pequeno investimento – a aquisição do nebulizador e de uma câmara. «É um sistema apropriado para PMEs ou para centros de saúde, quartéis de bombeiros, esquadras de polícia, municípios, entre outros», ilustra Marco Reis.

    Neste projeto, os cientistas não só avaliaram a eficácia da descontaminação microbiológica, como também o impacto dos tratamentos na eficiência de filtração, permeabilidade e características estruturais das máscaras, ao longo de 10 ciclos de utilização. Para realizar as experiências, o grupo de Microbiologia Ambiental do Centro de Engenharia Mecânica, Materiais e Processos usou esporos de bactérias como indicadores de esterilização, que indicam a eliminação de todos os seres vivos, bactérias e vírus, incluindo o SARS-CoV-2.

    Os resultados do estudo revelaram uma eficácia de praticamente 100% na descontaminação dos três tipos de máscaras experimentadas. Em geral, «os tratamentos aplicados são altamente eficazes na sua ação de descontaminação, podendo mesmo atingir o nível de “esterilização”, ou seja, uma redução superior a 99,9999% no número de células viáveis. Os tratamentos que não atingiram o nível de esterilização apresentaram pelo menos uma eficácia classificada como “desinfeção”, correspondente a uma redução superior a 99,9% no número de células viáveis», salienta o cientista da FCTUC.

     

    Em relação aos estudos de eficiência de filtração, realizados no CITEVE, os resultados indicam que esta importante característica para a proteção dos utilizadores e de terceiros «não foi afetada de forma significativa. Registaram-se apenas alguns efeitos na permeabilidade dos aparelhos, que, essencialmente, podem interferir no conforto de uso (respirabilidade). O impacto dos tratamentos nas características físico-químicas das máscaras foi também escrutinado (no Centro de Investigação do Departamento de Engenharia Química, o CIEPQPF), não se detetando mudanças químicas relevantes nas superfícies das máscaras, mesmo após 10 ciclos de tratamento», sublinha.

     

    No entanto, o docente esclarece que apenas o uso de vapor gerado em micro-ondas pode ser aplicado de imediato, «desde que não sejam colocadas máscaras com componentes metálicos». Para a aplicação dos tratamentos com peróxido de hidrogénio nebulizado e solução de hipoclorito de sódio diluído, ainda são necessários «estudos de desgaseificação para assegurar a inexistência de resíduos químicos decorrentes destes tratamentos», previne.

     

    O projeto, designado “Avaliação da Eficácia de Descontaminação e Segurança de Reutilização de Aparelhos de Proteção Respiratória (APR)” foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no âmbito da medida “Research 4 Covid-19”. Além de Marco Reis, participaram no estudo Paula Morais, Hermínio Sousa, Roberta Lordelo, Rafael Botelho, Rita Branco e Ana Dias.

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