DOURO vence em Bruxelas e é a Cidade Europeia do Vinho 2023

Nesta candidatura materializamos também a vontade de um território que é, segundo Miguel Torga, “a realidade mais séria que temos” em Portugal. Uma realidade que é “um excesso da natureza”, construída com sangue, suor e lágrimas derramados por gerações de durienses.

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  • 14:48 | Quarta-feira, 15 de Junho de 2022
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Douro venceu hoje, em Bruxelas, a candidatura “Cidade europeia do Vinho 2023“. O Douro Património da Humanidade será, assim, uma referência europeia no vinho, na vinha, na cultura e na celebração harmoniosa da natureza e obra secular realizada por gerações de durienses.

“All Aroud Wine, All Around Douro foi o lema da candidatura do Douro a Cidade Europeia do Vinho 2023, que orgulhosamente assumimos como um desiderato primordial na garantia do presente e do futuro do nosso território”, palavras do Presidente do Município da Régua no início do discurso de apresentação, esta manhã, em Bruxelas.

Esta candidatura é um dos maiores desafios coletivos que o Douro já assumiu em toda a sua História, materializando o desejo e o pulsar de toda uma região.


Nesta candidatura materializamos também a vontade de um território que é, segundo Miguel Torga, “a realidade mais séria que temos” em Portugal. Uma realidade que é “um excesso da natureza”, construída com sangue, suor e lágrimas derramados por gerações de durienses.

Foram múltiplas as razões para que a grande região do Douro tivesse vontade de assumir a missão de ser Capital Europeia do Vinho 2023.

Com esta vitória acalentamos o desejo legítimo de que o Douro, um grande contribuinte das exportações nacionais, faça do vinho e da vinha uma alavanca concreta e real para o desenvolvimento da sua economia e riqueza de quem aqui vive e trabalha.

O Douro não questiona o que o país pode fazer por nós, mas afirma a sua disponibilidade para continuar a trabalhar por Portugal. E é nesta incansável missão que estendemos as raízes da nossa autêntica e legitima ambição.
Com esta oportunidade, o nosso território vai transmitir, representar e será uma marca económica, social e cultural com notoriedade, um exemplo de interação harmoniosa do Homem com a Natureza.

Depositamos na essência deste projeto esse espírito autêntico e solidário do Douro, a região vitivinícola demarcada e regulamentada mais antiga do mundo, que este ano está a comemorar os seus 20 anos de Património da Humanidade, um cartão-de-visita Mundial.

Neste processo de candidatura a Capital Europeia do Vinho, apresentaram-se não só todos os municípios integrados na Associação, mas com todas as 19 autarquias que constituem a Comunidade Intermunicipal do Douro.

O Douro é uma região que atravessa um momento difícil, cujos custos de produção de vinho são os mais elevados do País, fruto da orografia das vinhas e agravado pelo aumento dos preços dos produtos indispensáveis à viticultura.

Sendo uma região Património da Humanidade, produtora dos vinhos do Porto e dos DOC Douro, a falta de equilíbrio dos custos de produção face aos valores granjeados com as vendas, impede que esta região conheça a sustentabilidade económica geradora do crescimento e do desenvolvimento.

Esta vitória é uma oportunidade para o Douro atingir esse anseio. Os 19 autarcas da CIMDOURO estão preparados para dar corpo a esta petição, juntamente com as entidades locais e regionais e todos os 22 mil produtores, assumindo a urgência da valorização do nosso produto e trazendo valor acrescentado à nossa região. Só desta forma poderemos garantir uma região equilibrada e com sustentabilidade. Só com este projeto e desígnio poderemos alavancar a nossa estratégia de futuro, poderemos contornar o flagelo da desertificação e acabar com o estigma de Interior profundo a que estamos ingloriamente associados.

Este Douro, terra de inspiração de pintores, poetas e escritores é, como diz António Barreto, antigo Ministro do Comércio, Turismo, e da Agricultura e Pescas “a memória de todos, o fio condutor de gerações. O vinho está presente de modo mais indelével que seja: nas consciências e nos sentimentos. Mas também reina na paisagem, naqueles formidáveis socalcos que, montanha acima, acabaram por lhe dar forma e feitio”.

Abrir o Douro ao Mundo é ademais outro propósito desta candidatura. A região do Douro, durante décadas a fio, centrou-se apenas e só na produção de vinho.

Hoje o Douro, território de paisagens carismáticas com alma e atitude, com o seu aprazível rio navegável, tem a ambição legítima de trazer o Mundo ao Douro. E será esta descoberta do Douro, esta vivência do Douro in situ que trará mais valias ao que produzimos, ao que aqui criamos, ao nosso vinho, à nossa vinha, à nossa gente.
Esta é uma oportunidade para promovermos o enoturismo, para podermos receber condigna e amplamente os visitantes, para mostrarmos o vinho como elemento estratégico e essência da nossa atividade económica.
O Douro, património consagrado e aclamado à escala mundial, está preparado para o desafio. Um desafio que passa pelo crescimento turístico, assente no vinho, na vinha, na paisagem e no património.

É nossa ambição fazer esse trabalho em prol do Douro, dos 22 mil produtores e de todos quantos persistem em manter os socalcos e estes jardins que são Património Mundial da Humanidade. O nosso compromisso, o desígnio dos 19 autarcas que incorporam esta candidatura, é deixarmos uma marca determinante e merecida neste território.
Termino citando José Saramago, Prémio Nobel da Literatura: no Douro as “montanhas de xisto” foram vencidas porque “o homem pôs-se a fabricar terra, desmontou, bateu e tornou a bater, fez com que se esfarelasse as pedras entre as palmas grossas das mãos, usou o malho e o alvião, empilhou, fez os muros, quilómetros de muros (…) para segurar a vinha, a horta, a oliveira (…) afinal desafiam em força as montanhas e mantêm-nas domesticadas (…) são gigantes pessoas… (…)  O Douro é a oitava maravilha do mundo”.

Somos todos Douro.

 

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