O socorro em Viseu deve estar mesmo mal. No sábado passado uma pessoa caiu em Viseu e o socorro foi prestado por uma ambulância que foi enviada a partir de Castro Daire.
Num concelho de 100 mil habitantes e duas corporações de bombeiros estas situações, que se repetiram num passado recente, não podem deixar de inquietar.
Com 4 quartéis de bombeiros, um deles está transformado em parque fechado de sucata. Para lá foi enviado um pronto socorro pesado e uma ambulância. Num prédio da cidade, histórico pelo empenho de quem o ergueu. E que podia custear o investimento no socorro de que a cidade carece. Adiante. Sucedem-se as situações em que uma das ambulâncias dos Bombeiros Voluntários de Viseu está no “botão”, inoperacional, apesar do investimento do Estado e do Município, o veiculo de socorro e condução de doentes soma inoperacionalidades por falta de tripulação. Ora isto leva-me àqueles 40 homens que pediram o afastamento de funções, entre férias, inatividade no quadro e desistência do voluntariado.
Com o exposto saem a terreiro os órgãos sociais a garantir que apenas foram 12 os pedidos de inatividade no quadro, ignorando os que anteriormente entraram e os muitos que pediram férias. Aludindo ainda que estes bombeiros, graduados e experientes, eram dos menos assíduos. E esquecendo que alguns destes que saíram, em sete meses, prestaram mais de mil horas de serviço à comunidade. A não ser que os registos tenham sido adulterados, o que não acredito…
Mas num tempo em que quem dirige e não comanda se arrola no direito de tecer conhecimentos técnicos sobre realidades que ignora, não espanta. Espanta é o quartel da Quinta da Ribeira, pago com dinheiros europeus e municipais, estar por vedar, abandonado, esquecido com os carros operacionais, de incêndio e acidentes a coberto e, nas traseiras e ao relento, ambulâncias à chuva que ainda não houve tempo para gizar um pavilhão secundário para as proteger das intempéries ou uma forma de vedar o quartel. Menos mal que assim a frente do quartel já não parece uma oficina de abate de veículos.
Ora escolhendo um comandante que vive fora do concelho, não explicando motivos dessa escolha, não optando pelo concurso, pelo mérito, pela avaliação curricular; não pagando horas extraordinárias e tendo entre hierarquia e diretores de serviço tantos recursos humanos, pagos e profissionais, creio termos um corpo de bombeiros “com uma grande cabeça e umas pernas pequeninas”. Ou em português popular muitos chefes e poucos índios, e os bombeiros que me desculpem a metáfora mal-amanhada. Mas, entretanto, os homens que querem ficar inativos devem fazer falta, porque não lha concedem e os chamam para conversas! De paz, pressuponho.
Os Bombeiros Voluntários de Viseu, fundados pelo Comandante Casimiro Gomes e com largos pergaminhos, são das instituições mais amadas deste concelho. Mesmo que alguns queiram apagar o carácter “Voluntário” da instituição. Esta política de recursos humanos, vertida nos manuais pelo “quero, posso e mando”, corre bem até que quem obedece se afasta. Os bombeiros vivem sem comandante, mas já não vivem sem bombeiros. E era bom que o concelho se lembrasse que a Associação Viseense de Bombeiros Voluntários é dos sócios e não dos Órgãos Sociais, pese embora andar por aí muita gente enganada. Uns pasmados, os lambe-botas a progredir e outros, formados e instruídos, a darem o salto para outras instituições, sem compensarem quem os formou e neles investiu. Mas isto dos bombeiros deve dar exposição mediática, social e política. Só não faz pensar.
Neste concelho, moderno e funcional, lindo e urbano, desenvolvido e inteligente, a única autoescada disponível atinge 32 metros e tem 29 anos. Os veículos urbanos de incêndios têm 20 anos e os de salvamento e desencarceramento 30 anos. Nas duas corporações. Entretanto, em anos recentes, Alcabideche comprou um veículo com plataforma giratória de 37 metros, por 434 mil euros. Loulé tem um veículo para socorro, assistência e desencarceramento que custou 339 mil euros e que até pode, se fosse necessário, acoplar um limpa-neves. E Mafra adquiriu um moderno veiculo para apagar fogos urbanos e industriais por 219 mil euros. Quem viu o desfile de aniversário dos Bombeiros de Tondela, aqui há dias, e olhou aquele magnifico veiculo urbano de combate a incêndios, ficou banzado. E quem entra no parque de viaturas do Sátão ou de Nelas fica estarrecido. Ou noutra corporação, como Santa Cruz da Trapa ou Farejinhas, perdoando os que esqueço. Querer é poder. Não é dividir para reinar. Tudo corre bem, até ao dia em que a ambulância para o socorro vem de 30 km a Norte ou, salvo seja, nos acontece outra rua do Arco ou outra rua do Comércio.
Ser Bombeiro é ser inovador, responder aos novos desafios, é não estar à espera, é tentar, tentar e voltar a tentar até chegar ao melhor desempenho e às melhores soluções.
Por cá insistimos no comodismo simpático, que não dá trabalho, mas também não acarreta responsabilidades. Que se alijam.
O que é triste, sobretudo tratando-se da maior Associação do concelho de Viseu e aquela que tem maiores responsabilidades.
Augusto Lopes, bombeiro inativo