Biotecnologia faz de Portugal a “fábrica de saúde da Europa”

O estudo conclui, ainda, que metade das empresas realiza exportações, havendo, por isso, uma grande abertura para o exterior neste setor. As remunerações são 1,6 vezes superiores em comparação com a média nacional. Em termos de propriedade intelectual, a biotecnologia está presente em 4 das 5 áreas em que mais se gera patentes em Portugal.

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  • 16:29 | Terça-feira, 22 de Dezembro de 2020
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A Associação Portuguesa de Bioindústria (P-BIO) apresentou o plano estratégico Bio-Saúde 2030, numa sessão que contou com a participação de Manuel Heitor (Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) e António Costa Silva.

O plano transmite ideias para promover o setor das Ciências da Vida e Biotecnologia, preconizando um investimento sustentado e transversal, que poderá permitir posicionar Portugal como um centro de Investigação e Desenvolvimento em Biotecnologia e Ciências da Vida e um pilar estratégico da capacidade de produção na União Europeia (UE), tornando o nosso país na Fábrica da Europa para a Saúde.

Entre as medidas abrangidas pelo plano estratégico Bio-Saúde 2030, destaque para: promoção da investigação e desenvolvimento clínico em Portugal como motor de novo financiamento do SNS; constituição de uma reserva estratégica de capacidade produtiva para UE em saúde; promoção do emprego altamente qualificado; capacitação do tecido industrial da UE através da criação do SME Business European Enhancement Act.


 

Portugal como uma fábrica do futuro assente em conhecimento

A sessão apresentou novos resultados do estudo de caracterização do setor da biotecnologia em Portugal, que refere que, das empresas em Portugal que desenvolvem investigação e desenvolvimento em biotecnologia, cerca de 60% são dedicadas à biotecnologia médica, sendo as restantes 40% dedicadas à biotecnologia aplicada à bioeconomia (agroindústria, floresta, mar, industrial ou ambiental).

Regista-se uma média de 4 anos entre a constituição da empresa e o lançamento do produto no mercado, pelo que há necessidade de investimento de longo prazo que permita a consolidação das empresas que consigam ter um pipeline de produtos em investigação e outros em produção para se tornarem sustentáveis ao longo do tempo. Um terço das empresas de biotecnologia em Portugal recorre a fundos próprios.

João Cerejeira, da Universidade do Minho, apresentou os resultados do estudo sobre este setor, que tem registado um rápido crescimento nos últimos anos. Com uma forte ligação aos principais clusters que respondem aos desafios colocados à União Europeia, trata-se, segundo este estudo, de um setor inovador, não apenas na academia, mas também nas empresas, com recursos humanos altamente qualificados e uma força de trabalho jovem. Os principais fatores críticos para crescimento assentam nas capacidades organizacionais, investimento/financiamento e no desenvolvimento do ecossistema.

O estudo conclui, ainda, que metade das empresas realiza exportações, havendo, por isso, uma grande abertura para o exterior neste setor. As remunerações são 1,6 vezes superiores em comparação com a média nacional. Em termos de propriedade intelectual, a biotecnologia está presente em 4 das 5 áreas em que mais se gera patentes em Portugal.

 

“Temos a capacidade de criar um núcleo na biotecnologia, nas áreas alimentar e de saúde”

Em 2020, a biotecnologia mostrou, mais do que nunca, a sua importância. No combate à Covid-19, é fundamental diagnosticar, ter dados epidemiológicos, desenvolver tratamento e vacina – tudo isto passa pela biotecnologia. O papel da ciência e do conhecimento na sociedade ganhou mais relevância, sobretudo na área das Ciências da Vida, levando a P-Bio a desenvolver a Estratégia Bio-Saúde 2030, que defende a criação de um cluster económico robusto capaz de servir o país, a Europa e a sociedade. Durante a sessão, Simão Soares, Presidente da P-Bio, afirmou que vivemos um “tempo de grandes desafios em que a biotecnologia pode ser essencial para desenvolver uma economia baseada em conhecimento e pessoas altamente qualificadas”.

Manuel Heitor apelou à mobilização para a criação de ideias para o setor, que deve reunir start-ups em articulação com o sistema científico e tecnológico. “Temos a capacidade, a nível competitivo, de criar um núcleo – seletivo, mas relevante – de atividade na biotecnologia, nas áreas alimentar e de saúde”, assinalou. O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior acredita que a biotecnologia pode possibilitar que exista uma Europa com mais Portugal, para que seja possível, por exemplo, contribuir para tornar a Europa mais autónoma no desenvolvimento e produção de medicamentos inovadores à escala global.

 

“A biotecnologia pode ser a grande resposta”

David Braga Malta, vogal da direção da associação e coordenador do programa Bio-Saúde 2030, afirmou que a “importância da biotecnologia se fez notar como nunca em 2020”, assinalando que “se este cluster crescer da forma adequada, será fundamental para a economia nacional”. António Costa Silva, autor do Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, corrobora esta ideia, destacando que “o setor da biotecnologia está no cruzamento dos grandes desafios que temos para o futuro”, que passam por “prevenir futuras pandemias, reforçar saúde, não ignorar a crise climática”. “A biotecnologia pode ser uma grande resposta”, assinala. Trata-se de “um cluster com potencial para crescer no futuro”, sendo um “pilar crucial para mudar a economia do país”. António Costa Silva refere que “temos todas as competências funcionais, mas falhamos nas competências estruturais”.

Isabel Rocha, Pró-Reitora na Universidade NOVA de Lisboa, sublinhou a importância de promover a transferência de conhecimento, o que poderá contribuir para o crescimento das start-ups. Isabel Rocha referiu também que “algumas start-ups demoram muito a crescer e outras nem conseguem fazê-lo”. Denota-se, por isso, “falta de financiamento e tradição de outras empresas em incorporar este conhecimento tecnológico”. Já João Gonçalves, Secretário-Geral da Associação Portuguesa das Empresas de Dispositivos Médicos (APORMED), afirmou que “o estímulo do mercado interno é importante” e a “contratação pública pode ter um papel fundamental”, contribuindo para uma maior projeção internacional das empresas portuguesas.

 

 

 

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