Segunda-feira, dia 2 de outubro. Ouço Moedas a dizer às televisões que não sabe se vai aceitar a transferência de competências na área da saúde. Precisa de ter uma conversa com o ministro sobre o assunto. Afinal, Lisboa não é um concelho qualquer.
Quando o Partido Socialista perdeu as eleições, faz agora dois anos, a política relativa às infraestruturas de Saúde na capital encontrava-se em avançado estado de concretização. Estavam concluídas, ou em obra, as Unidades de Saúde da Ajuda, Beato, Alto dos Moinhos, Alta de Lisboa, Fonte Nova, Marvila, Restelo, Areeiro, Alcântara e Sapadores/Graça; em processo de concurso final estavam Ribeira Nova, Arroios, Campo de Ourique e Telheiras.
Até hoje ninguém ouviu o PS Lisboa a falar sobre isto com voz grossa, a colocar uns cartazes à porta de cada unidade, na frente de cada empreitada, mesmo que Marta Temido saiba bem o papel de Medina na frente da batalha e como se antecipou à descentralização que Costa quer agora concretizar.
Este é o lado que irrita. Deixar Moedas à solta não é só um problema para o futuro, para as autárquicas de 2025, é um problema de sanidade política, de acerto com a História.
Falamos de Saúde, mas poderíamos falar de um outro universo que se revela importante e que também se espraia na tal descentralização – a Educação.
O atual incumbente já inaugurou oito escolas e cinco creches e, com uma lata que revela falta de educação, pergunta – Já vinham de trás, mas porque é que não estavam feitas?
António Costa, há pouco tempo presidente da Câmara, abriu o túnel do Marquês. Convidou para a inauguração os antecessores, Santana Lopes, que o tinha lançado com polémica, e Carmona Rodrigues, que o tinha construído, tudo porque assim manda a mínima decência política.
Mas o universo onde o atrevimento se faz sentir com mais notoriedade é o da habitação e do alojamento. Moedas não faz obra, mas faz politiquice contra o Governo.
A prova da incompetência moedística é a residência de estudantes da Avenida Manuel Damaia. A obra está pronta há muitos meses, mas falta o equipamento. Só abrirá no início do próximo ano, passado que está o primeiro semestre. Este é o exemplo da ineptidão da gestão atual. O escândalo é a residência universitária da Av. 5 de Outubro. Todos os dias mente com o seu ar de menino objeto de bullying. Diz que o projeto que o Governo tinha para ali não respeitava a lei – mas sabemos bem que o problema não era bem esse, importava atrasar para poder dizer que tinha sido ele a desbloquear o imbróglio.
Eu conheci, na década de 1980, autarcas assim, gente que se importava pouco com os fregueses e mais com o poder em si. Mas, no nosso tempo, não é aceitável este comportamento tipicamente comunista que os ângelos de Moedas transferiram para Lisboa.
Vamos agora aos números das casas atribuídas pela Câmara Municipal de Lisboa entre 2018 e 2021 – 2287 chaves entregues. Quem o diz é a carta municipal de habitação que o próprio município ainda não rasgou. Este número contradiz tudo o que Moedas e Roseta dizem a cada dia. Só entre setembro de 2021 e julho de 2023 foram entregues 1332 chaves no Campo Grande, na Av. Visconde Valmor, na Av. das Forças Armadas, na Av. dos Estados Unidos da América, na Av. da República, na Rua de Campolide e nos Bairros da Cruz Vermelha, Padre Cruz e da Boavista. E, claro, nem uma dessas casas foi obra do incumbente do dia.
E há ainda mais – entre 2021 e 2023 (programas lançados antes do PS ter perdido as eleições) foram atribuídos 1176 subsídios de renda, sem que se saiba, por agora, os valores do moedismo em movimento. E também não se conhecem os números que possam comparar com os 2008 fogos reabilitados nos mandatos anteriores.
Moedas é um verdadeiro ovo kinder. Muita publicidade, uma película ínfima de chocolate (a vinda do Papa Francisco) e um mundo de nada dentro. Isto não é um presidente, isto é um toy que vai sair muito caro aos lisboetas.
Lisboa tem novos elétricos. São bonitos, eficientes, cómodos. Vieram substituir os que foram comprados há 30 anos na era Jorge Sampaio, de saudosa memória. Moedas, pimbalhão, sentou-se em cima de um deles para os fazer seus. Falta dimensão a este homem. Um político digno desse nome deveria ter batizado um com o nome do antigo Presidente da República, mas não! Antes dele tudo foi um desastre, depois dele tudo será um deserto. Estas palavras começam com um d – um d de despeçam-no!
PS: ao longo do anterior mandato autárquico fui cruel na apreciação da política de limpeza urbana de Pedro Delgado Alves enquanto presidente da Junta de Freguesia do Lumiar. Passados dois anos, eu só posso dizer – naquela altura a freguesia era um brinco, hoje é um enxurdeiro. E até é presidida por um médico de Saúde Pública…
Ascenso Simões