Viseu, o estado da arte

Entretanto na próxima sexta feira, na Assembleia Municipal (offline), o autarca irá ler a narrativa ficcional que o departamento de comunicação lhe preparou, mantendo-o na sua bolha virtual da realidade paralela onde tem vivido, exaltando como positivo todas as críticas negativas que angariou na forma inábil e inepta como tem gerido e continua a gerir a crise pandémica.

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  • 17:51 | Terça-feira, 23 de Junho de 2020
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Inevitavelmente, números tão maus como os dos infectados com o Covid-19 estão a chegar ao nosso quotidiano.

Agora são os do desemprego que disparou um aumento brutal de 25% na região centro e em breve a isto se juntarão os números das insolvências das empresas e do desespero das famílias.

Estes números merecem muita preocupação social pois é de dramas pessoais que se trata e não podem deixar de merecer uma resposta por parte dos organismos oficiais, do poder central aos locais.


A primeira forma de lidar com um problema é reconhecer que ele existe, facto que este executivo viseense tem muita dificuldade em encarar dado que para azar dos munícipes não se encaixa nas suas agendas pessoais.

Esta pandemia veio para ficar e não vale a pena desenhar cenários fictícios ou negacionistas da situação que o País vive, sendo o mais importante o preparar e pôr em campo medidas e soluções que minimizem os efeitos arrasadores na economia.

Se porventura chegamos ao frio do Outono e das gripes invernais com esta situação rotineira de contágio, cedo a pressão sobre o SNS se fará sentir e isso obrigará a novas medidas restritivas da vida das famílias e das empresas com tudo o que de péssimo isso trará.

Sejamos honestos, no concelho de Viseu os baixos salários e um poder de compra per capita inferior de todas as capitais de distrito da região não permitem que as famílias vivam fora da gestão do dia 30 de cada mês. Poucas serão aquelas que têm capacidade financeira e níveis de poupança que permitam viver além desse dia com uma perda de rendimento ou de salários alargada no tempo.

As empresas na sua generalidade e o pequeno comércio também não andam longe desta trágica análise. Poucas ou nenhumas dispõem de fundo de maneio capaz de suportar as despesas operacionais e os vencimentos dos funcionários num mercado de consumo de 20 a 30% ou até 50% do habitual, como a lei agora impõe nalguns casos.

Estamos, pois, na minha modesta opinião, longe do ponto de tranquilidade, da desejada normalidade e segurança pessoal, ainda que sujeita a novas regras de higienização e ética respiratória.

As máscaras que a autarquia finalmente ofereceu às famílias (nem todas) vieram para ficar e, portanto, ao fim de 5 lavagens teremos que adquirir outras para garantir a eficácia requerida de protecção.

Igual preocupação terão os inúmeros comerciantes a quem não chegaram (e não chegarão, infelizmente) ainda os kit´s de protecção individual que o executivo diz ter já distribuído pelos estabelecimentos das 25 freguesias.

Aparentemente indiferente a isto o que faz a autarquia? Prepara-se para desenhar mais um momento repetido ao longo de 2 meses de festa e foguetório, os micros eventos onde se gastarão macros orçamentos, onde só poderão assistir os permitidos pelas regras da autoridade de saúde pública e os convidados da elite intelectual do marido da directora do Viseu Marca, a par dos artistas seleccionados da trupe de alinhados e suporte da facturação necessária para alimento dos 200 funcionários que a área do vereador do marketing sexy and safe já contém e esperem pelos Museus, não tarda terá mais gente que a Graça Fonseca tem no Ministério da Cultura.

O momento é, pois, ainda de emergência, prevenção e cautela, mas para a agenda do executivo é de festa e festarola.

Verdade seja dita, ao longo destes sete anos não mostraram mais nada capaz senão isto e honra seja feita ao Europeade que trouxe algum retorno ao coletivo.

Em tudo o resto, só no dia que se conheçam em pormenor os relatórios de gestão e contas da Viseu Marca (o último incompleto disponível é de 2018) se vislumbrará que outros retornos terá trazido!

A oposição também lá se vai arrastando no possível, a Filó do PCP interventiva mas só de quando a quando e cada vez menos agora que ganhou estatuto de colunista do pasquim; o lord do CDS cujo nome agora me falha, sempre muito bem no seu dress code, mas no resto preparado para nas próximas autárquicas ser engolido pelo CHEGA; o PS independente de Baila Antunes alinhado nas questões do eu, eu ambiental e atento às redes sociais, o PS institucional de Lúcia Silva a manter o registo do necessário (e possível reconheço) para garantia da sua sobrevivência enquanto colectivo e creio que não me esqueci de quem naquele fórum alguma outra diferença faça.

No geral não fiscalizam, não supervisionam, não escrutinam e não conseguem impor as suas parcas e inconsequentes propostas junto do desinteressado executivo. No meio disto os munícipes viseenses servem para pagar impostos e para votar mantendo o sistema!

Entretanto na próxima sexta feira, na Assembleia Municipal (offline), o autarca irá ler a narrativa ficcional que o departamento de comunicação lhe preparou, mantendo-o na sua bolha virtual da realidade paralela onde tem vivido, exaltando como positivo todas as críticas negativas que angariou na forma inábil e inepta como tem gerido e continua a gerir a crise pandémica. Num exercício hábil de palavras dirá que os “tablets das crianças carenciadas irão ser entregues”, mas sem referir o ano lectivo ou sequer o mês em que isso acontecerá, no mesmo dia que a escola termina. Concluirá a apontar Viseu como o farol do interior e sem que ninguém lhe explique que um farol tem por função afastar os navios do perigo e não a de aproximar os navegantes das oportunidades. Um escusado gasto de saliva num período em que isso é dispensável e até perigoso!

Dirá que faz mundos e fundos pelos Bombeiros e demais Protecção Civil, num período que se avizinha difícil com os fogos à porta, e que já disponibilizou apoios no valor de 400 mil euros, mas se acaso conhecesse a realidade saberia que o inevitável cancelamento do Dia dos Bombeiros na Feira de São Mateus representará uma quebra enorme nas receitas destes soldados e combatentes da paz. Acaso lhe ocorreu dispensar parte do imaterial dos 535 mil euros que vai queimar em foguetório e propaganda pré-eleitoral num subsídio de 100 ou 150 mil euros a favor dessas corporações? Não? Já se imagina, claro! No que sobra ao invés de convidarem a Cuca a vir receber aplausos daqueles que têm a sorte de ter uma janela virada para a rua onde passará, porque não pegam no sobrante dessa verba e apoiam iniciativas dos artistas locais (além dos amigos do dono disto tudo) que vivem tempos de dificuldade?

Um executivo e uma oposição que governassem para as pessoas estariam nesta altura sentados a pensar e planear em tempo e oportunidade medidas tendentes a diminuir o desemprego, o sacrifício das famílias e o esforço das empresas. Escuso-me de as voltar a repetir por já tantas outras vezes as ter elencado e delas haverem ignorado ou na melhor das hipóteses terem mal copiado, alterando o seu alcance e objectivo.

Num momento em que a luta partidária fervilha com novos candidatos às concelhias e às federações é aproveitar e perguntar-lhes. Devem estar cheios de ideias e de propostas inovadoras capazes de devolver outra esperança aos viseenses. Ou escutem os parceiros sociais locais, ACDV, AIRV, Vissaium, “os etctrum”, os já poucos e escondidos recursos académicos da cidade, os viseenses nas redes sociais, entre todos certamente que muitas e boas ideias surgirão. No limite, façam um crowdfunding pelos viseenses para pagarem umas férias prolongadas à dupla ruinosa do executivo, mesmo correndo o risco de ficarmos uns tempos sem gestão governativa pois… pior não fica e quem não estorva já ajuda muito! Até podem ficar por lá em 2021. Os viseenses já merecem verem-se livres desta Twilight Saga que no ano 2020 da luz, câmara, (in)acção tem passado no Rossio.

Ao menos se fosse em Drive In, o risco de contágio era menor…

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Publicado em Opinião