Jonas Vingegaard, ciclista dinamarquês da equipa “Jumbo-Visma”, e vencedor da 109.ª edição da Volta à França em bicicleta, prova rainha desta modalidade, disputada no verão passado, protagonizou, na parte final do seu longo itinerário, dois momentos inolvidáveis, memoráveis.
No contra-relógio, vendo que a vitória no “Tour”, já não lhe escapava, levantou o pé do pedal, desacelerou, e deixou que o seu colega de equipa, o gigante belga Van Aert, vencesse a penúltima etapa, recolhendo os merecidos louros por uma vitória suada.
Já antes, o gesto fora ainda maior, de uma grandeza e de um “fair-play” inigualáveis, só à mão de pessoas especiais e ao alcance dos abençoados. Corria-se a última etapa em alta montanha, nos Pirenéus, com uma contagem de categoria extra, e depois de o ciclista dinamarquês quase ter caído, foi a vez de o esloveno Tadej Pobacar, o seu directo rival na classificação, tombar mesmo, no alcatrão.
É possível ser-se inteiro nas curvas da competição. O ciclista dinamarquês poderia ter-se aproveitado do azar do adversário e com isso alargar a vantagem, consolidar a liderança, e partir mais descansado para as últimas etapas. Preferiu ser grande, superlativo mesmo, também no desportivismo, mostrando ser um campeão completo, capaz de uma atitude única e singular. Para além de ciclista, foi um Homem.
São estes gestos altos e nobres, infelizmente raros, que se sobrepõem às muitas misérias e trafulhices que chafurdam tantas modalidades desportivas, até o ciclismo, como aconteceu com Lance Armstrong, o batoteiro.
Trago hoje aqui os episódios, porque estamos todos cansados da galhofa e do ridículo em que a vida política se tornou, um regabofe jamais visto, e também como um contributo para alguma higienização de um ambiente tão enfadonhamente insalubre.
Disse.
(Fotos DR)