Uma longa e bela história de amor. Homenagem ao avô Manel e à avó Maria

Por razões que só a fisiologia feminina explica o jovem casal só pode concretizar a sua noite de núpcias uma semana depois. Pobre Manuel que todos os dia se dirigia a casa da sogra e perguntava com impaciência se a sua Maria já podia ir com ele ao que a sogra respondia: Hoje ainda não, os “piquenos” referindo-se aos outros filhos choram muito e ela tem pena de os deixar, volta amanhã. O tão desejado dia acabou por chegar!

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  • 22:27 | Sexta-feira, 28 de Junho de 2024
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Como todas as histórias de encantar esta também começa por era uma vez e vai terminar com um final feliz de ficaram juntos para sempre.

Então vamos à história. Era uma vez uma menina chamada Maria, que quando nasceu tinha os olhos tão azuis, mas tão azuis, que os pais viveram momentos de grande ansiedade pensando que a sua filhinha poderia ser cega. Felizmente estes receios não se concretizaram e Maria cresceu linda e saudável no seio de uma família de nove irmãos em que ela era a segunda, mas a mais velha das irmãs. Que responsabilidade ser a mais velha das irmãs! Maria tinha que cozinhar, tinha que remendar, tinha que fazer os “coturnos” e ainda ajudar os pais e irmãos nas lides do campo. Mas Maria era uma rapariga forte, trabalhadora e prestável e nada disto lhe metia medo!

Certo dia, andava ela por volta dos quinze anos e num dos serões da aldeia, um rapazola bem posto, filho de boas famílias e mais velho do que ela alguns anos, pediu permissão à mãe de Maria para se poder sentar aos seus pés, na palha de centeio quente que forrava o chão da loja. Talvez tenha sido o calor da palha juntamente com o calor dos seus corpos jovens e castos, que incendiou neles um fogo que perdurou por toda as suas longas vidas. A Maria e o Manuel, assim se chamava o rapaz, não tardaram muito para começarem a tratar de tudo para o casamento. Ficou decidido que casariam mal a rapariga completasse dezasseis anos.


E assim foi, num belo dia de Maio os dois apaixonados casaram sem pompa e sem circunstância, uma vez que a família da noiva não podia despender daquilo que não tinha para a grande festança. Que importava a festa!!! Importante era o amor que eles sentiam!

Por razões que só a fisiologia feminina explica o jovem casal só pode concretizar a sua noite de núpcias uma semana depois. Pobre Manuel que todos os dia se dirigia a casa da sogra e perguntava com impaciência se a sua Maria já podia ir com ele ao que a sogra respondia: Hoje ainda não, os “piquenos” referindo-se aos outros filhos choram muito e ela tem pena de os deixar, volta amanhã. O tão desejado dia acabou por chegar!

Esta história acompanhou os dois ao longo da sua longa e feliz vida e era com orgulho que a partilhavam com os filhos e netos. Talvez tenha sido esta longa espera que fez deste casal um casal apaixonado ao longo de mais de sessenta anos de vida em comum. Era lindo ver a cumplicidade, a partilha, o querer estar juntos, o fazer tudo em comum, desde descascar as batatas, rachar as castanhas, dobar a meada de lã, cozer o pão, até as histórias que contavam eram partilhadas.

A Maria era um bocadinho mais fantasiosa nas suas histórias, mas tinha ali o seu “Grilinho”, para a alertar quando ela ia longe de mais nas suas histórias de lobisomens, homens sem cabeça e cavalos brancos que desapareciam em fogo na Capela do Espírito Santo.

Sempre atento o avô Manuel apenas dizia: cala-te lá com isso Maria que as “piquenas” podem ficar com medo. Maria obedecia e para apaziguar o receio da criançada pegava no terço e começavam todos a rezar. Rezava – se o terço, pelas almas de familiares, amigos e conhecidos e rematava-se com um rosário de Misericordiosíssimo Jesus.

Já velhinhos a Maria e o Manuel não escondiam momentos de ternura e era frequente vê-los sentados de mãos dadas. Mãos calejadas e cravejadas das marcas do tempo, mas mãos que se procuram e se encontram.

A Maria e o Manuel foram felizes para sempre e ficaram juntos até que a morte os separou, mas aqueles que os amam acreditam que continuam juntos em qualquer lugar, ela a fazer a sua meia e a contar as suas histórias e ele a dobar a lã e a olhá-la como se ela continuasse a ser a rapariguinha de quinze anos por quem se apaixonou.

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Publicado em Opinião