No âmbito das notícias precipitadas, nada iguala a que dá a morte de alguém que ainda vive. No entanto, o resumo cuidadoso de um discurso que nunca foi proferido também é extraordinário. Em 1946, estava bem presente no anedotário colectivo a resenha do Diário Popular sobre um discurso do deputado Henrique Galvão que, afinal, ficara por fazer. Para os adeptos de ciclismo, continuava a ser famoso aquilo que Jorge Severo considerou «um facto semelhante sucedido há anos na vida de um jornal desportivo do Porto». Jorge Severo tem um modo bem-disposto de apresentar os assuntos. Concedo-lhe a palavra.
«Um rapaz dos jornais foi encarregado de fazer um relato circunstanciado de uma prova ciclista. Mas o pândego do jornalista tinha nessa manhã um almoço fora de portas e não quis faltar ao repasto. Seguiu à risca o ditado: guarda que fazer e não guardes que comer, porque o trabalho espera e o comer azeda.
Afinal, à tarde, os outros jornais publicavam a seguinte notícia: “A corrida Porto-Lisboa não se realizou.”
Ao ser interpelado pela redação do jornal, o folgazão do repórter respondeu com uma grande lata: – A culpa do fracasso não foi minha. Foi dos organizadores da prova. Se ela se não efectuou, devia efectuar-se, visto que estava anunciada e não é justo levar ninguém ao engano…”»