Uma casa na Lousã

O congresso decorreu numa casa da Lousã, na segunda quinzena de Julho. Pacheco Pereira explica que os participantes, depois de se reunirem num raio de trinta quilómetros, foram levados de olhos vendados, em automóveis, ao local.

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  • 20:49 | Terça-feira, 21 de Setembro de 2021
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Na magna biografia de Álvaro Cunhal, José Pacheco Pereira considera 1946 o ano de «apogeu do comunismo português».

Em três anos, o número de militantes do Partido Comunista passara de 1200 para mais de 5000. O líder do Partido preparou dois relatórios para o II Congresso Ilegal, e demorou nisso, segundo Pacheco Pereira, grande parte do primeiro semestre. «Passa e repassa os textos à máquina no estilo minucioso que o caracteriza, acrescentando notas sobre notas, muitas vezes reduzindo a sua letra aberta e legível quase à invisibilidade.» Encontrava-se na clandestinidade, isolado, mas lendo sem fim e avaliando a evolução política, incluindo a internacional, pela rádio.

O congresso decorreu numa casa da Lousã, na segunda quinzena de Julho. Pacheco Pereira explica que os participantes, depois de se reunirem num raio de trinta quilómetros, foram levados de olhos vendados, em automóveis, ao local. Em rigor, o historiador escreve que eles seguiram «com os olhos fechados ou sem olhar para fora». Não havia venda, mas disciplina e um vigilante que a fazia cumprir.


Um congressista veio, no comboio, de Grândola ao Entroncamento, e daqui até Alfarelos. Com mais quatro militantes, tomaram um automóvel e, durante quatro horas, com os olhos cerrados, como disse, para não descortinarem o percurso, andaram às voltas até chegarem, já de noite, à casa, arrendada com o pretexto habitual de se destinar a um doente em convalescença, necessitado de sossego e dos ares da serra.

Depois do 25 de Abril, Álvaro Cunhal regressou à Lousã e recordou como se puseram cinquenta pessoas, durante uma semana, numa moradia de dois pisos.

 

(Foto DR)

 

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Publicado em Opinião