Hoje, quando estava a arrumar o escritório que vai deixar vago, o ministro da Cultura de Portugal, por outros dito de Lisboa, congeminou uma portaria que cria a Rede Portuguesa de Casas de Escritores.
No decurso dos 60 Anos da Morte de Aquilino Ribeiro, este ministro que era da Cultura, foi oficialmente convidado para estar no Colégio da Lapa num evento que decorreria na abertura desta efeméride nacional, simbolicamente, no concelho onde o escritor nascera e no colégio onde estudara de 1895 a 1900. Convidámos o reitor da Universidade Aveiro, Paulo Ferreira, que prontamente anuiu, assim como o referido ministro, diga-se em abono da verdade, que também anuiu.
Fizeram-se convites, imprimiu-se um programa, convidaram-se individualidades e gizou-se um projecto/guião à medida do convidado, que passava, entre outros momentos, pela passagem e conhecimento in situ da Fundação Aquilino Ribeiro, ou a casa do Escritor, na Soutosa, concelho de Moimenta da Beira, onde tanta página escreveu, se acolheu nos lances maus da vida, aí recebeu as maiores personalidade da intelectualidade nacional, onde existe um significativo acervo de pintura e uma biblioteca com 8 mil livros dos vários escritores que Aquilino colecionou e outros que comprou em alfarrabistas e de seu pai, o Padre Joaquim Francisco Ribeiro, herdou.
Na semana que antecedeu o evento, com tudo preparado, recebeu-se um email do gabinete do governante dizendo que o senhor ministro não poderia estar presente por motivos pessoais inadiáveis. Nesse dia ao fim da tarde, viu-se na televisão a assistir a uma final de futebol.
Mostrou também, embrulhado na deselegância do acto, a falta de respeito por três autarcas, o de Moimenta da Beira, o de Sernancelhe e o de Vila Nova de Paiva, as Terras do Demo, os estatutariamente definidos proprietários da FAR. Dois deles seus correligionários. E para rematar, evidenciou o desinteresse que durante o seu mandato lhe mereceu a interioridade do nosso país, centrada que teve a sua actuação prioritária pelos macro lóbis da capital.
Anda se tentou que viesse uma secretária de Estado do seu ministério que, desde logo, se mostrou indisponível.
Não saudamos, pelo apontado, a mágica Portaria n.º 112-A/2024/1, de 21 de março, que de substantivo pouco tem, tendo , pelo contrário, bastante de adjectivo. Ainda mais, feita à pressa para sair no papel no dia da cessação de funções do dito ministro.
Que pena tão tarde ter descoberto isto… “ Existem em Portugal diversas instituições que desenvolvem um importante trabalho de preservação e divulgação de autores da literatura. Trata-se de instituições de natureza e enquadramento diverso, incluindo museus, casas-museu, bibliotecas ou fundações, mas que na sua missão se dedicam à divulgação da vida e obra de autores da literatura portuguesa e, em alguns casos, à preservação dos seus espólios.
Estes espaços são locais privilegiados para o conhecimento e divulgação da história da literatura portuguesa e dos seus autores, mas também da história do nosso país em geral.
É necessário, por isso, promover o trabalho destas instituições, bem como o seu conhecimento e a sua qualificação, nomeadamente fomentando o trabalho em rede e ligando os vários espaços que se dedicam a preservar a vida e obra dos autores de língua portuguesa para ampliar o acesso e a divulgação da literatura portuguesa, conferindo-lhes centralidade, independentemente da localização dos territórios em que se situem.”
A vergonha, senhor cessante ministro, é um bonito adereço. Penitencie-se e tenha, pelo menos, pejo ou pudor…