Não há como fugir de duas figuras culturalmente repugnantes, éticamente miseráveis e socialmente espurcas. Por regra, andam a par e são inseparáveis. O cobarde e o traidor. Qual deles o pior, venha o diabo e escolha. Para o traidor, fica a tumba.
Hoje, vou dizer, sem papas na língua, o que penso de um cobarde.
O Cartão de Cidadão não identifica um cobarde. Um cobarde é um “desaparentado”. Um cobarde é um sem-abrigo de carácter. Um cobarde é do tipo “bate e foge”. Um cobarde é um puto, um criançola a quem fazem bem umas tardes no parque infantil, entretendo-se a coçar o cu no escorrega, obrigatoriamente higienizados, depois, não vá o cobarde sujá-los com o traseiro. Não há paciência para um cobarde. Um cobarde é um energúmeno, um cobarde não é gente, um cobarde é um vegetal, respira, mas não pensa. Um cobarde é uma coisa sem nome, uma coisa reles e ordinária, que não justifica atenção, não merece indulgências, nem preces, nem orações. Um cobarde é um medricas vulgar e rasteiro. Ninguém perde tempo com um cobarde. Um cobarde é um rato que frequenta os esgotos sujos da rede pública e se alimenta dos dejectos nauseabundos largados pelos privados, em hora de aperto e aflição intestinal. Um cobarde é um porco de espírito, coisa ainda mais ignóbil que um pobre de espírito. Um cobarde faz parte da parte sombria e sórdida da escória social. Um cobarde é um escroque, que se lambuza com a mentira, o boato e a intriga. Um cobarde é um invertebrado, é um tipo sem coluna, é um gajo irresponsável. Um cobarde é um apóstolo da imundície e um profanador da dignidade humana. Um cobarde é um delinquente, que se acoita atrás do anonimato para melhor fazer travessuras e diatribes, e dizer alarvidades. Um cobarde é um verme, que infecta e tresanda. Um cobarde é um coitadinho, um frouxo, um imbecilóide. Um cobarde é um frustrado, incapaz de assumir posições e decisões. Um cobarde é a palha que calcamos e o tapete onde limpamos os pés. Um cobarde é um interdito.
Um cobarde é assim e não muda, não há como confiar. Um cobarde dá-me cefaleias, náuseas e prisão de ventre. Um cobarde não se segura e faz pelas pernas abaixo. Um cobarde não é um homem. Por tudo isto, que é pouco, um cobarde mete pena.