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Rebelo Marinho
Li, algures, que o Papa Francisco decidiu cortar 10% nos salários dos cardeais e de outros clérigos, procurando, desse modo, salvar o emprego dos funcionários laicos e que a redução dos vencimentos não recaia sobre aqueles que ganham menos.
Não imagino quanto ganha um cardeal, mas admito que seja homem para não se tratar mal. Mas seja muito ou pouco, é o exemplo que fica por parte de uma instituição que tem a obrigação de o dar. É uma gota no oceano, que seja! É um acto simbólico, que seja!
De facto, há dinheiro e valores a mais na Igreja, vem de há muito tempo esse debate, que teve o seu ponto alto com as suspeitas que envolveram o banco do Vaticano e o movimento dos seus fluxos financeiros.
A arte sacra vale milhões, o ouro e as pedrarias são realidades que se dispensam. Os anéis e os paramentos debruados a ouro, podiam ser mais sóbrios e discretos. A talha dourada e o mármore são ostentações evitáveis. E alguns adereços litúrgicos dão uma imagem de luxo que não fica bem. E nada disto tem a ver com fé.
É um bom exemplo que o Papa dá ao mundo, partindo do princípio de que ele foi o primeiro a sofrer o corte salarial, como convém, para que o exemplo não fique manchado.
Tantas empresas podiam fazer o mesmo, evitando o desemprego e a miséria de tantas famílias. E, em Portugal, realisticamente, temamos pela crise social que aí vem, tão ou mais destruidora do que a sanitária, quando as moratórias acabarem, e os bancos, ressuscitando o seu espírito predador e sádico, chamarem os devedores a pagar os empréstimos, os juros e os juros sobre juros, não curando de saber o rasto de destruição que vai perdurar.
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