Torredeita o comboio da vergonha

A autarquia viseense, dona da obra, tem responsabilidades e devia, também, ter o mínimo necessário de pejo e de pudor perante aquela triste realidade aos olhos de todos exposta.

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  • 20:09 | Domingo, 05 de Novembro de 2023
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A Linha do Dão foi inaugurada no dia 24 de Novembro de 1890 e encerrada em 1989/2000. No seu lugar, entre Viseu e Santa Comba Dão, está agora a Ecopista do Dão.

À data do encerramento, Portugal era regido pelo XI Governo Constitucional, que tinha como primeiro-Ministro Aníbal Cavaco Silva e ministro das Obra Públicas, Transportes e Comunicações Joaquim Ferreira do Amaral. Fernando Ruas, no seu primeiro mandato, era o presidente da Câmara Municipal de Viseu.

Outrora, a estação então chamada de Torre d’Éita foi um factor de desenvolvimento económico daquela freguesia. Ainda hoje, a seu montante, se pode ver a serração encerrada e abandonada, que era uma das empresas mais empregadoras daquela localidade.

A autarquia viseense recuperou um dos edifícios que fazem parte da antiga estação num investimento de mais de 155 mil euros. Diz o cartaz que ali vai nascer um espaço museológico com respectivas estruturas de apoio, obra feita com fundos europeus do PDR 2020 e do Portugal 2020, para Fomento do Desenvolvimento Local nas Zonas Rurais. Louvável iniciativa.

 


Uma parte da obra parece estar feita. Ao lado, o armazém mantém-se em adiantado estado de ruína e a composição de comboio para ali levada e trazida em tempos da Régua, essa, completamente vandalizada, destruída e apodrecida, é hoje um cóio de toxicodependentes e outros delinquentes.

A cada ano que passa, e já passaram muitos, o seu estado de degradação e abandono tornou aquela peça simbólica do património industrial português e da História dos Caminhos de Ferro num monte de sucata sem recuperação à vista.

A autarquia viseense, dona da obra, tem responsabilidades e devia, também, ter o mínimo necessário de pejo e de pudor perante aquela triste realidade aos olhos de todos exposta.

Ademais, a Fernando Ruas, natural da vizinha localidade de Farminhão, que assistiu conformado ao encerramento da Linha do Dão, não ficaria mal o brio, que mais não fosse, de honrar o nome do comendador Arcides Simões, que tanto pela terra e por aquele apeadeiro pugnou.

Vamos ser optimistas e pensar que um dia a obra vai ter conclusão, que um museu ali vai nascer e que o “comboio” ali apodrecido e esquecido vai ser restaurado e se vai tornar numa chamativa infraestrutura de apoio ao núcleo museológico em causa.

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Publicado em Opinião