Mario Vargas Llosa nasceu no Perú em 1936. Prémio Nobel da Literatura, para além de escritor foi jornalista, professor, político.
O seu último título “Tempos Duros”, em Portugal chancela da Quetzal, 2020, não é um romance, mas sim uma narrativa de jornalismo de investigação com recurso a dados históricos e a entrevistas com algumas das personagens que nele perpassam.
Estamos na Guatemala, que deu origem à expressão “república das bananas”, por mérito de uma multimilionária empresa USA, a “United Fruit”, (na América Latina também designada de a Fruteira ou o Polvo) de um fulano chamado Sam Zemurray, que tinha descoberto o ouro na importação para o seu país das bananas guatemaltecas.
A United Fruit tinha como representantes legais dois advogados norte-americanos, os irmãos republicanos John Foster e Allen Dulles da firma Sullivan & Cromwell, mais tarde secretário de Estado e director da CIA, respectivamente.
Quando os militares fantoches foram substituídos por Jacobo Árbenz, um reformista, a Fruteira, isenta de impostos, senhora de milhares de hectares de terra, detentora do monopólio das bananas, utilizadora de uma imensa mão de obra escrava, sentiu-se ameaçada em parte dos arquimilionários lucros.
Assim, com a ajuda de Edward L. Bernays que se intitulava o “Pai das Relações Públicas”, decidiram investir milhões em notícias que davam como certo o domínio comunista na Guatemala e, daí, a sua possível irradiação a toda a América Latina e aos EUA.
Compraram a comunicação social progressista norte-americana e os políticos em tempos de macarthismo e “caça às bruxas”, arquitectaram uma campanha de fake news visando a deposição de Árbenz e a sua substituição por Castillo Armas, um coronel da ultra-direita, manipulado pela CIA, personificada nas figuras do embaixador John Purefoy e do “tenente-coronel à pressão” J. Abbes Garcia, Chefe das secretas de Trujillo e um mercenário a soldo de quem mais lhe pagasse, desde Trujillo, a Papa Doc.
Do “ministro general”, mestre requintado na arte da tortura, o coronel Enrique Trinidad Oliva, à amante de Castillo Armas, Marta Borrero Parra, na era de Eisenhower, por estas páginas sucedem-se uns e outros no exercício terrível do terrorismo político a soldo dos EUA e por eles pago.
“Tempos Duros” é um notável trabalho de investigação jornalística centrado na Guatemala de 1954, que contribui para a desmistificação da democracia norte-americana, mostrando a sua intervenção em sucessivos golpes de estado, ao serviço de inconfessáveis interesses e de empresas multimilionárias que suportam as campanhas eleitorais dos líderes reconhecidos.
A ler, com urgência…
(Todas as fotos com DR)