Ontem, ao passar junto de um terreno com o feno cortado, relembrei o quanto detestava todas as tarefas que se relacionam com este trabalho agrícola.
A única coisa que recordo com carinho é o som do picar das gadanhas que me chegava de casa do meu tio Resende, que era um exímio picador de gadanhas. Gadanha que saísse da mão dele, diziam os entendidos, que poderia servir de navalha para fazer a barba tal era a pureza daquela lâmina! Tudo o resto era sofrimento, trabalho árduo e receio.
Até que o feno chegasse ao palheiro onde era guardado para servir de alimento aos animais no próximo inverno tinha que levar voltas e mais voltas e cada uma delas a mais cansativa porque era sempre feita com muito calor e tirando o corte quase tudo o resto era feito pelas mulheres.
Seguidamente o feno tinha que ser virado, para secar do outro lado e os receios voltavam todos!! Quando a erva atingia aquela cor característica de uma boa secagem, todos para o terreno para se juntar o feno em montes utilizando os engaços de madeira ou de ferro de diferentes tamanhos. Aqui, a nossa perna servia de apoio para se fazerem os montes e se antes tinha pavor de uma cobra enrolada num braço, agora o medo passava para a perna!
Atrás dos que faziam os montes vinham os homens ou as mulheres mais fortes para atarem os molhos com os vencilhos que eram feitos de palha de colmo, previamente regados para se tornarem mais resistentes.
Molhos feitos, era preciso levá-los para o palheiro. Em carros de vacas ou em tratores o feno chegava finalmente ao seu destino, não sem antes dar muita comichão no corpo, muito espirro, muito cansaço, muito receio…