Para os mais novos e menos conhecedores destas lides do campo, a segada é uma tarefa que ocorre durante o mês de Julho e que consiste na ceifa do centeio e do trigo, que outrora era feita com as seitoiras (foices) e pelas gadanhas, posteriormente, substituídas pelas máquinas.
Como a maioria dos trabalhos que envolviam muita mão-de-obra, também nas segadas as pessoas da aldeia uniam-se e ajudavam-se uns aos outros, num trabalho comunitário em que não se desperdiçava qualquer ajuda, mesmo dos mais novos.
Como dizia o avô Manel: o trabalho do menino é pouco mas quem o desperdiça é louco.
O trabalho era hierarquizado, como quase tudo, na sociedade dessa época. Assim, os homens ceifavam o trigo e o centeio, as mulheres e os mais novos, faziam pequenos montes a que se dava o nome de molhos que depois eram atados com uma espécie de entrançado feito de palha, os vencilhos, que eram unidos nas extremidades. Esta tarefa competia aos homens por terem mais força para apertar o molho.
Todos estes molhos eram depois colocados em rolheiros, pequenas montes circulares, com a espiga voltada para o interior, para a proteger tanto do calor excessivo como da chuva, que não raras vezes aparecia entre raios e trovões.
Quando a segada chegava ao fim, tarefa que poderia levar dias quando o lavrador possuía muitas terras, era tempo de carregar as fachas ou molhos para os carros de vacas rumo às eiras onde se faziam um rolheiro único com todo a colheita.
As eiras (eira da Marinheira, eira Grande, eira da Lage, eira do Areal…) tinham os seus donos e ninguém colocava o rolheiro na eira do outro, até porque à volta das eiras os agricultores tinham os palheiros onde depois guardavam a palha depois da malhada.
Também não faltava o queijo de vaca feito em casa, o presunto e a iguaria por excelência desta altura, os famosos ovos com salpicão. Tudo isto regado com muito e bom vinho. O vinho e a água eram distribuídos pelos mais novos que numa mão levavam o garrafão, na outra o copo e lá iam pelo restolho fazer a distribuição, primeiro do vinho para os homens e depois da água para as mulheres e crianças. Toda a pequenada queria fazer esta tarefa! Para haver ordem, quem indicava a quem cabia este privilégio era o dono das terras, entre nós era o avô, que como tinha muitos netos a planificação era complicada. Mas, com o seu bom senso, sabedoria e autoridade tudo corria bem!
A segada era um tempo de alegria! Quando este trabalho era dado como terminado pela patrão do dia, todos regressavam a casa com as alfaias às costas, atrás do carro de vacas onde vinham empoleiradas as crianças e com a sensação de missão cumprida, todos cantavam e dançavam.
Um dos homens trazia um grande ramo de amieiro, que simbolizava o fim de mais uma segada. No dia seguinte, nada de novo…tudo de novo…
(Fotos DR)