CAPÍTULO XXIV
– Muito bom dia, senhor presidente. Que bem que se está aqui, no Borralhal, mais precisamente no Vale da Margunda. Faz bem aos pulmões respirar este ar matinal e fresco, com aroma de eucalipto.
– Bom dia, senhores. Aproveitem enquanto o calor não aperta …
– Mas estamos em fevereiro …!
– Sim, mas temos aí uma máquina de fazer calor, andamos em experiências de produção de energia térmica. Tem 2 benefícios – queima e produz.
– Isso é interessante. Quem sabe, outro dia qualquer, não nos assalte a curiosidade para avaliar esse engenho, a bem de todos os moradores.
– Sintam-se em vossa casa. “Bem-vindo seja quem vier por bem”.
– Agradecidos do fundo do coração. Mas vamos lá à tal pergunta do milhão …
– Nem dormi de noite, com a emoção de poder responder… pergunte, por favor!
– Muito bem, senhor presidente, já sabemos que há reuniões do CE às 5.ªas feiras, ao fim da tarde, para não impedir nenhum dos autarcas de tratar dos seus munícipes, que recebem o valor de uma senha de presença, disse presença, certo?
– Certo, de presença. Nem poderia ser de outra forma … mas permita-me uma ligeira correção, ou duas: esporadicamente, pode aparecer aqui um ou outro, para receber algum ilustre visitante ou para assinar notas de despesa e outras… e pode escrever que ninguém, ninguém do atual Conselho, recebe nada disso.
– Claro, acreditamos em si, foi falta de clareza nossa. Referimo-nos aos vossos antecessores.
– Ah bom, assim fico mais tranquilo. Os senhores sabem tão bem quanto eu como é esta gente. Julgam por “dá cá aquela palha” e dizem que somos todos iguais.
– Certo, entendemos; na verdade, começam a sair do armário uns esqueletos que confundem tudo, nem sabem distinguir um penico de uma chávena – um penico pequeno e uma chávena grande, é igual, tanto faz para eles; falta de chá, isso sim! São os populistas de trazer por casa, criticam todos os políticos, mas não são exemplos para ninguém, enfim. É o que temos… mas são perigosos.
– Vá lá, não me arrepanhe ainda mais a minha curiosidade, que quase me mata. Até me falta o ar. Venha daí essa pergunta…
– Não é bem uma pergunta, mas pretendemos uma informação escrita: Facilite-nos a conta-corrente de cada um dos senhores que fizeram parte do Conselho de Administração, até à vossa entrada. Quanto recebeu cada um no desempenho desta nobre missão…
– Ó diacho, agora á que me apanharam desprevenido. Tenho de pedir ao contabilista. Podem esperar um pouco?
– Certamente que sim, aguardaremos!
– Aceitam um café?
– Muito obrigados, aceitamos si. E um copo de água, já agora.
…..
– Ora cá está. Desculpem a demora, mas tivemos um pequeno problema na impressora. Tem trabalhado muito, ultimamente. Deve ser a tirar cafés para os homens que andam a montar a máquina de fazer calor. Façam favor, analisem e vejam se está tudo em conformidade…
– Senhor Presidente, permita-nos pedir um esclarecimento: há dois executivos que receberam reembolsos de despesas de combustíveis, transportes e alimentação. Come-se bem no Borralhal?
– Tem dias, principalmente quando se come fora … ao jantar!
– Já reparamos que ao mapa principal, teve a amabilidade de juntar o mapa dos recebimentos repartidos. Isso facilita muito a nossa análise.
– Vocês, ao contrário do que me avisaram, até não são maus rapazes. Que coisa é essa de MU não sei quê? Utentes de quê?? Essa sigla é bonita…
– Disponham sempre e boa viagem até vossas casas.
– Agradecidos, senhor Presidente!
Foi assim, a pergunta que vale, não UM MILHÃO DE EUROS, mas não andará muito longe. Deixem-nos analisar e logo voltaremos com novidades …
(CONTINUA)