Tal como o sol, a água quando nasce é para todos! (XVIII)

- Isso não sei, apenas sei o que pagamos. Uma renda anual de 6 mil contos; o equivalente a 29.927,84 euros em moeda de agora, para sermos exatos.

Tópico(s) Artigo

  • 10:33 | Quinta-feira, 10 de Abril de 2025
  • Ler em 3 minutos

CAPÍTULO XVIII

 

– Bom dia, mais uma vez, senhor porta-voz do Planalto, como vai?


– Vou bem, obrigado. E os senhores, ontem ficaram esclarecidos?

– Ainda não, totalmente. Sabe, como os senhores resistiram a dar informações, primeiro ao MUAP e depois ao Grupo Parlamentar do PS da Assembleia Municipal de Tondela, tivemos de recorrer ao Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu.

– Sim eu sei, obrigaram-nos a dar respostas, embora contrariados, mas lá teve de ser. Os senhores do TAF portaram-se muito mal connosco, falaram de direitos e mais não sei o quê… nem percebi muito bem …mas digam, em que mais posso ser útil?

– Como nos sugeriu, queríamos que nos falasse das tais águas sobrantes ou privadas e mais não sei quê … pode contar-nos o que sabe?

– Pouco sei, herdamos isso como se tratasse de uma fatalidade, uma fatalidade cara. Sabe, no Caramulo existia, ainda existe, uma rede privada de abastecimento de água domiciliária. Dizem ser caso raro, mesmo único no nosso país. Mas como os caramulanos também são filhos de Deus, alguém lhes fez um favor – alugaram a água ao dono, usaram os canos, segundo se consta, fabricados em fibrocimento ou em plástico daquele preto, dos mesmos materiais com que se fabricam os canos usados nas redes de esgotos, puseram a água a correr dentro deles e a Junta de Freguesia do Guardão passou a emitir a fatura e a fazer a cobrança.

– Disse que alugaram a água? É água engarrafada, como aquela que é explorada em Varzielas e vendida com a marca Água do Caramulo?

– Não alugamos, os outros é que alugaram. Não é engarrafada, é água de nascente, numa rede de excelência, muito boa e vai serra abaixo até jorrar nas torneiras das pessoas.

– Mas as águas das nascentes da serra não são de todos?

– Sabe, são coisas de antigamente, que nunca mudaram. Olhe que foi ao Caramulo que os russos vieram estudar o fabrico, como se diz, daqueles senhores que caiem muito das janelas … bem, vocês sabem!

– Entendo, mais ou menos. Mas diga-nos, quem é o dono das águas?

– Bem, o dono não sei, com estas modernices de agora, metem uns nomes esquisitos e ninguém sabe quem são os senhores. Só sei que é uma tal Sociedade do Caramulo. Também fiquei intrigado, mas fui ver ao dicionário de língua estrangeira e percebi que faz parte de um tal “din”, “linkedin” e lá estava escarrapachado: “A Sociedade do Caramulo tem os seus olhos postos no futuro, operando em diversas áreas como o alojamento, o imobiliário ou o fornecimento de águas”. Vê com o é fácil, leu aquele “ou”? Tão explicadinho que percebi logo tudo – “ou o fornecimento de águas”! Fiquei mais descansado, afinal é uma empresa especialista em águas, fornecimento de águas.

– Muito interessante, esse senhor Din; já percebemos quem faz a cobrança da água, mas quem paga?

– Os consumidores do Caramulo e arredores, claro.

– Sendo um negócio, quanto é que lucram com isso?

– Isso não sei, apenas sei o que pagamos. Uma renda anual de 6 mil contos; o equivalente a 29.927,84 euros em moeda de agora, para sermos exatos.

– Dessa parte, estamos esclarecidos. E podemos engarrafar a água para vender a retalho?

– Se há quem venda frascos com ar de Fátima, também haverá sempre alguém que compre água desta, tão valorizada que é. Só que esta água não faz milagres, a não ser que os convençam.

– Mas este negócio não é um milagre?

– Quem sabe…!

 

(CONTINUA)

 

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Opinião
4