CAPÍTULO VII
Noite de 11 de outubro de 2009.
Terminada a contagem dos votos, ó desgraça das desgraças, nem uma, nem umazinha só surpresa – nem uma só mudança, nem uma só cara nova!
O povo, esse povo que nunca se engana, demonstrou ser tão bom ou mais assertivo que o povo de Jerusalém, quando, há 2.000 anos, perante o desafio de Pôncio em época de Páscoa, escolheu que Pilatos libertasse o ladrão!
No dia seguinte, daquela fresca manhã de outono, de ar puro inundado com aroma de eucalipto, o telefone toca na estação e uma voz feminina atende:
– Bode Expiatório, bom dia!
– Isso é o que iremos ver!
– Perdão? …
– Desculpe, menina, estava aqui a falar com os meus botões e a pensar na vida. Queria falar com o gerente.
– Mas, senhor, aqui não há gerentes, há um administrador, 2 diretores, 3 chefes ….
– Menina, não me faça perder tempo, passe-me a alguém da Contabilidade.
– E quem devo anunciar?
– Diga que é da AMRPB , a malta do lixo …
– Bem, fiquei na mesma, mas estou aqui para atender o telefone e não para perceber … um momento, por favor, vou tentar passar a chamada …
(suspensa a chamada, uma música celestial entoa ao ouvido do interlocutor do Vale da Margunda – “ó ai ó linda, isto agora é que são elas, ó ai ó linda, chegou a hora de cobrar…”)
– Sim, fala da Contabilidade e estou a falar com …?
– Não tem nada com isso. Ouça, não faça perguntas e responda apenas. Entregaram-lhe a nova Tabela de Preços a faturar?
– A fatura do saneamento? Ou a fatura do lixo?
– Nenhuma dessas, sua burra, a fatura da água!
– Mas as faturas deste mês já foram para o correio, senhor.
– E que tenho eu a ver com isso? Faça outras, as eleições já terminaram e correram bem, como era suposto.
– Mas, senhor, eu não posso receber ordens de estranhos, muito menos do quem nunca ouvi falar. Sei lá eu o que é essa coisa da AMR não sei quê, que a minha colega telefonista nem soube soletrar…
– Nem tem de saber, apenas tem de começar a aplicar as novas tarifas da água.
– Mas, senhor, não diga que a água vai subir ainda mais?! Estes dias tem chovido tanto … ainda bem que estamos no Senhor dos Aflitos, bem longe e mais alto que a barragem do Paul.
– Ó menina, você é burra ou faz-se?
– Desculpe, pagam-me para fazer chamadas, receber chamadas e passar chamadas, e não para ouvir desaforos. Bom dia e passe bem … pi …pi … pi…
Depois da célebre chamada telefónica, nada ficou como antes. Afinal, havia um BODE EXPIATÓRIO e a música era outra!
Mais mês, menos mês, a nova tabela de taxas e tarifas já estava nas moradas, assim, muito devagar, como quem não quer a coisa, disfarçad@s a marca de água.
Mas esta nova tabela esconde fatores que pesam muito na conta que recebemos a cada mês (ou cada 2 meses).
Esconde a TAXA DE DISPONIBILIDADE (não consegui encontrar o valor anterior, mas, seguramente, passou para mais do dobro), que em 2025 é de 7,87 € + IVA, por cada período de 30 dias.
Perplexos, perguntamos:
Os municípios são condomínios fechados, em que as obras de beneficiação ou de criação de novas estruturas são repartidas pelos convivas? Claro que não.
Os municípios são entidades públicas, têm competências e, acima de tudo, deveres para quem habita e paga seus impostos no território, bastantes deles totalmente receitas próprias municipais: IMI, IMT, IUC, Derrama … Depois, mais 5% do IRS cobrado, os licenciamentos e taxas de obras, de publicidade, de ocupação da via pública, etc. Também são receitas dos municípios, as receitas de capital do Orçamento de Estado, por sua vez, provenientes dos nossos impostos e taxas: IRS, IVA, ISP e outros.
Mais que isso, é um roubo. A sobretaxa foi uma tripla ou quadrupla tributação, felizmente já extinta, por ilegal. Também foram e são um roubo estas novas (2008) tarifas da água, é um roubo a alteração dos limites dos escalões que disfarçam enormes subidas do preço, foi e ainda é um roubo o que pagamos, consequência das marcas de água devidas pelas más escolhas do nosso povo!
Em estado solvente, mas cuidadosos em encontrar um bode expiatório, que se deixou cair na esparrela do silêncio – ÁGUAS DO PLANALTO.
Agora, há que desvendar os contornos do negócio …
(CONTINUA)